4.11.07

Uma outra imagem do Sudão

Christian Trombetta, suíço radicado no Brasil, passou quase três anos no país africano trabalhando na administração de acampamentos da ONU e outras organizações. Durante este período ele fotografou o cotidiano da população local, registros que mostram orgulho e esperança.




São Paulo – Registrar imagens pouco conhecidas do Sudão. Este foi o hobby de Christian Trombetta, suíço radicado no Brasil, durante o período em que passou no país trabalhando na montagem, administração e logística de acampamentos da Organização das Nações Unidas (ONU), entidades de ajuda humanitária e forças de paz. "Minha idéia era retratar um outro lado do país, verdadeiro, onde independentemente da guerra existem sorrisos e esperança nos olhos das pessoas", disse ele ontem (25) à ANBA.

Trombetta clicou crianças brincando, mulheres vestidas com roupas coloridas, homens em trajes tradicionais, cenas do cotidiano da população local. "Apesar de tudo há esperança, orgulho e uma certa beleza", disse. "A pobreza a gente já vê na televisão e nos jornais, mas ninguém mostra o lado bom do país", acrescentou.

Neste sentido, ele fez uma comparação com o Brasil. "Se você mostrar só o filme 'Tropa de Elite' lá fora, todo mundo vai pensar que o Brasil todo é assim", disse Trombetta, referindo-se ao filme recém lançado que mostra ações violentas do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia contra traficantes no Rio de Janeiro.

Antes de ir para o país africano, Trombetta trabalhava com publicidade, marketing, organização e logística de eventos. Ele sempre atuou na área, mesmo sendo formado em direito. Veio para o Brasil em 1991, ao se casar com uma brasileira.

Durante um evento na Suíça, Trombetta foi convidado pelo Afex Group, empresa de capital norte-americano sediada no Quênia, a trabalhar no gerenciamento de acampamentos no Sul do Sudão. A Afex oferece serviços de suporte e logística para entidades e companhias em lugares remotos.

Trombetta esteve na região de 2005 até dezembro do ano passado, trabalhando em acampamentos nas localidades de Juba, Rumbek e redondezas. Foi aí que surgiu a idéia de começar a fotografar. "Gosto de arte, de pintar, mas no lugar onde eu estava não havia telas nem espaço. Então eu comecei a fazer fotos, durante o trabalho mesmo. Quando eu ia para alguma vila sempre levava a máquina", disse. "A realidade lá era como um filme e eu queria gravar as imagens desse filme."

Vida simples

Após décadas de guerra civil, um acordo de paz foi assinado em dezembro de 2004 entre o governo sudanês e rebeldes do Sul. Apesar do acordo ser considerado frágil, ele trouxe relativa estabilidade à região. Segundo Trombetta, gradativamente a atividade econômica tem retornado. "A população tem grandes esperanças no crescimento econômico, sobretudo em Juba", afirmou.

Lá estão instalados os órgãos da ONU e organizações não governamentais, o que ajudou a impulsionar o comércio local, além de criar empregos. Segundo Trombetta, empresas chinesas estão trabalhando na reconstrução de estradas, e outras companhias, especialmente dos Emirados Árabes Unidos, atuam na importação de bens de consumo e alimentos.

Além disso, as instituições de auxílio estão capacitando a população no uso racional da água e na agricultura. "Em Juba eles já plantam verduras, batatas, tomates", disse o fotógrafo amador. Parte dos habitantes atua no comércio, outros em pequenos serviços, como conserto de bicicletas, ou nas pesca durante a estação de chuvas, mas muitos ainda sobrevivem da ajuda de órgãos como o Programa Mundial de Alimentos da ONU. "É uma vida extremamente simples, eles vivem em cabanas ou em campos de refugiados."

No entanto, a principal atividade, segundo Trombetta, é a criação de gado. Ter bois é considerado um símbolo de status, e famílias que têm muitas reses são consideradas ricas. Os animais só são abatidos em ocasiões especiais, como casamentos e funerais. Na dieta do dia-a-dia estão mais presentes o leite de cabra e a carne de cabrito.

Trombetta afirmou que sempre foi tratado com muito carinho pela população local, pois sempre os tratou com respeito. Segundo ele, os dinka, uma etnia local, são muito orgulhosos e gostam de quem fala com a cabeça erguida. "É uma tradição tribal", afirmou.

Contraste

Para mostrar ao seu filho, hoje com 13 anos, e amigos a realidade do seu local de trabalho, Trombetta começou a postar suas fotos num blog e elas começaram a se espalhar pela internet. "Gente do mundo inteiro passou e entrar em contato comigo", disse.

Em janeiro deste ano, ele se mudou para Darfur, região do Sudão ainda em conflito, para trabalhar em um acampamento das forças de paz da União Africana, desta vez contratado pela PAE Government Services, que pertence à norte-americana Lockheed Martin. Lá a situação é diferente, a mobilidade era pouca e as saídas do campo eram realizadas somente com escolta armada. Mesmo assim Trombetta continuou a fotografar.

"Foi um contraste. Antes eu trabalhava em eventos de marcas famosas, como Louis Vuitton e Hugo Boss, o extremo do luxo europeu, e fui viver no meio de pessoas saídas de uma guerra", disse. Para ele, no entanto, foi a oportunidade de ver uma região que poucos conhecem. Lá, além das fotos, ele ajudou jovens a aprender informática. "Há muita busca por escolaridade", declarou.

Trombetta retornou ao Brasil em agosto, para ficar ao lado do filho. A temporada no Sudão era intercalada por quatro meses de trabalho contínuo com três semanas de férias. "Eu vi o que tinha que ver", disse. Agora ele quer mostrar o que viu para outros, pois pretende montar uma exposição de suas fotos e está um busca de um local e patrocinadores.

Contatos


Christian Trombetta
Tel: +55 (11) 3881-9377
E-mail: christian.trombetta@ticino.com
Site de fotos: www.picturesofsouthsudan.blog.kataweb.it


Fonte: ANBA


Conferência alerta para nova forma de preconceito contra muçulmanos

Córdoba (Espanha), 9 out (EFE) - Os participantes da Conferência sobre Intolerância e Discriminação contra os Muçulmanos, que começou hoje em Córdoba, no sul da Espanha, alertaram para a nova forma de preconceito representado pela "islamofobia" e pediram que a comunidade internacional adote medidas para prevenir este fenômeno.

Esta é a mensagem emitida pelo ministro de Assuntos Exteriores espanhol, Miguel Ángel Moratinos, na inauguração do fórum internacional, promovido pela Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), que reúne na cidade espanhola representantes de mais de 60 países.

O ministro espanhol e atual presidente da OSCE ressaltou a necessidade de evitar o risco de que um novo fenômeno de xenofobia "perturbe as relações sociais e lese os direitos humanos e a segurança" dos muçulmanos.

Para ele, a islamofobia "é uma realidade que ameaça a convivência nas sociedades", e é um problema contra o qual é preciso "lutar e dispor de medidas de prevenção e alerta".

Moratinos admitiu que a ação do terrorismo internacional ajudou a alimentar este fenômeno, mas considerou "irresponsável" estender sua rejeição a todos os muçulmanos.

O secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, qualificou Córdoba de "um dos lugares mais importantes para a tolerância, praticada (no local) há dez séculos". Ele se referia ao fato de a cidade espanhola ter ficado sob domínio muçulmano entre os séculos VIII e XI.

Moussa destacou ainda o papel da Espanha na promoção do diálogo entre as culturas e da Aliança de Civilizações.

Em seu pronunciamento na conferência, o secretário-geral da Liga Árabe afirmou que o conflito entre o Islã e o Ocidente "carrega dentro de si a semente de um confronto a longo prazo", principalmente no Oriente Médio.

A culpa deste choque, acrescentou, é dos "extremismos" das duas civilizações e daqueles que defendem comportamentos "hegemônicos" e incentivam o que definiu como "anarquia criativa".

Para o dirigente árabe, a intolerância ao islamismo não tem origem nos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, e sim no fim da Guerra Fria.

Moussa censurou atos como a charge de Maomé e os que criticam a forma de viver dos muçulmanos que moram na Europa, e lembrou que aos ocidentais que viviam em países islâmicos há um século "ninguém perguntava por que se vestiam de uma maneira ou de outra".

"O Islã não é fácil de vencer; é fácil de conviver com ele", disse o responsável da Liga Árabe, organização que reúne 22 países.

Outro dos oradores na conferência, o alto representante da ONU para a Aliança de Civilizações, Jorge Sampaio, afirmou que iniciativas como esta reunião organizada pela OSCE podem ajudar na "compreensão" entre culturas e religiões e a superar a "ansiedade social" contra os muçulmanos.

Sampaio insistiu em que "não há lugar para soluções unilaterais ou isoladas" e, por isso, recomendou unir esforços entre organismos como a ONU e a OSCE.

O presidente da região de Andaluzia, Manuel Chaves, também discursou na conferência e ressaltou a importância de realizar encontros deste tipo.

Para ele, a visão da religião islâmica por parte do Ocidente "está freqüentemente carregada de um conjunto de estereótipos, percepções negativas e preconceitos".

Durante dois dias, representantes dos 56 Estados-membros da OSCE - entre países de Europa, Ásia Central, Estados Unidos e Canadá - e de nações associadas, como Marrocos, Argélia, Egito, Israel e Afeganistão, estudarão a intolerância contra os muçulmanos e recomendarão medidas para reduzir seus efeitos.

Os debates serão divididos em cinco mesas-redondas nas quais diversos especialistas discutirão o papel da imprensa e a importância da educação para superar os preconceitos contra os muçulmanos.

Fonte: UOL Notícias