30.1.04

“Armas de Distração em Massa” - Islamofobia

Logo após os manifestantes contra a visita de Bush terem deixado a Trafalgar Square, o Ministro para a Europa Dennis McShane deu o tom para o debate. Os muçulmanos britânicos, ele alegou, tinham que escolher entre “a modo britânico” e os valores do terrorismo. A mensagem foi alta e clara: existe um “confronto de civilizações”. Todos os muçulmanos estão sob suspeita. O extremismo e o Islam andam de mãos dadas. Os comentários foram condenados. Trevor Philips, presidente da Comissão para a Igualdade Racial, foi rápido ao retrucar que os líderes muçulmanos desde 9/11 tem sido exemplares em sua oposição ao terrorismo. McShane eventualmente se desculpou, mas o dano estava feito.

“A Islamofobia que estamos testemunhando não é meramente acidental. Ela provê uma distração importante para a poderosa elite literalmente “cuidar de seus negócios”, longe do escrutínio das pessoas comuns. “Um exemplo é a questão do banimento de estudantes muçulmanas do uso do véu e também o requerimento de que os lenços sejam removidos para as fotos de identidade. Essa medida extrema, que ataca o direito das mulheres muçulmanas de usar o que quiserem, tem sido apoiada tanto pela direita quanto pela esquerda.

“Na minha opinião, existe uma certa ironia nessa política, que de fato é uma imagem no espelho da imposição sobre as vestimentas das mulheres feita pelo Talebã. Eu digo por que as mulheres muçulmanas não podem escolher por elas mesmas: véu ou não? É um item de roupa sobre uma mulher mais importante que a matança brutal de pessoas inocentes, o estupro e a ocupação de países estrangeiros, a crescente pobreza e débito? Armas de distração em massa certamente não são menos perigosas do que armas de destruição em massa.

“Se tornou aceitável para muitos fazer generalizações negativas sobre a comunidade muçulmana, embora tais generalizações raramente sejam feitas sobre outras crenças.Ninguém pode ousar considerar todos os cristãos como intolerantes reacionários pelo fato de George Bush proclamar amplamente seus valores cristãos enquanto sanciona o assassinato de pessoas inocentes no Iraque.

A ironia é que as mesmas coisas que muitos muçulmanos consideram como fundamentais à sua crença – respeito pela liberdade de escolha, importância dos direitos humanos, igualdade de homens e mulheres, ênfase na solidariedade e luta por justiça – são as coisas menos associadas com o Islam. Ainda assim esses são os valores e princípios que motivam muitos de nós diariamente.”


Editado de matéria veiculada na edição de Dezembro/2003 da revista QNews