31.7.04

Obra de Malba Tahan, o mais árabe dos brasileiros, segue há décadas como best-seller

O carioca Júlio César de Mello e Souza (1895-1974), mais conhecido como Malba Tahan, e autor de "O Homem que Calculava", foi um dos grandes difusores da cultura árabe entre nós. Escreveu mais de 50 livros sob o pseudônimo - depois incorporado à carteira de identidade com a autorização do presidente Getúlio Vargas - e inovou ao ensinar matemática se utilizando da estrutura narrativa sedutora dos contos orientais. Seu livro mais famoso, lançado em 1938, está na 63ª edição e em maio freqüentava a lista dos mais vendidos.

Andréa Estevão

Rio de Janeiro - Desde a primeira metade do século 20, várias gerações de jovens brasileiros têm sido apresentadas à cultura árabe através do mais árabe dos cariocas, o professor de matemática Júlio César de Mello e Souza, ou, como é mais conhecido, Malba Tahan. Seu livro mais famoso, "O Homem que Calculava", que combina aventuras em cenários típicos da geografia árabe com encantadoras soluções de problemas de álgebra e aritmética, já está na 63a edição, pela editora Record. A publicação consegue o feito de aparecer, ainda hoje, na lista dos cinco livros infanto-juvenis mais vendidos no Brasil, segundo pesquisa publicada no jornal O Globo, do dia 22 de maio de 2004.

Ao todo, Júlio César/Malba Tahan escreveu 103 livros (somados os de ficção, didáticos e científicos) e vendeu mais de 2 milhões e 600 mil exemplares.

O matemático Júlio César de Mello e Souza se apaixonou pela cultura árabe quando criança, ao ler os "Contos de Mil e Uma Noites". Mas foi em 1919, aos 23 anos, que mergulhou nos estudos da cultura e língua árabes. Entre 1919 e 1925, se dedicou a ler o Talmude e o Alcorão e a conhecer a história e a geografia dos países árabes.

Tal empreendimento traduz-se na delicadeza com que constrói seus personagens; na sensibilidade com que tece os diálogos repletos de poesia e sabedoria; na verossimilhança dos ambientes descritos. Crianças ou adultos, ficamos completamente envolvidos pela forma como o autor apresenta a suntuosidade de um salão, ou a sedução de uma tenda repleta de turbantes, jóias ou tecidos. Tal acuidade nas descrições se torna um feito ainda mais maravilhoso quando nos deparamos com o fato de que Júlio César jamais esteve no Oriente.

Grande narrador de histórias, se tivesse nascido no Cairo ou na Constantinopla de um outro tempo, Júlio César poderia ter sido considerado um verdadeiro cheik el-medah (prestigiado chefe de corporação de contadores de história, que havia em algumas cidades).

Na apresentação da tradução brasileira da obra "As Mil e Uma Noites", da editora Ediouro, ele afirma: "é a lenda a expressão mais delicada da literatura popular. O Homem, pela estrada atraente dos contos e histórias, procura evadir-se da vulgaridade cotidiana, embelezando a vida com uma sonhada espiritualidade". O professor Mello e Souza diz, em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro, ter escolhido contar fábulas e lendas como um árabe porque nenhum povo jamais superou os árabes na arte de contar histórias e na paixão em ouvi-las.

Estréia em A Noite

Malba Tahan foi apresentado aos cariocas, em 1925, no extinto vespertino carioca A Noite, de Irineu Marinho, através de uma biografia fictícia supostamente redigida pelo também imaginário tradutor, Breno Alencar Bianco. Tanto o escritor quanto o tradutor são frutos da prodigiosa inventividade de Júlio César, que a eles deu vida e produção literária, numa coluna cujo título era "Contos de Malba Tahan".

Ali Lezid Izz Eduim Salim Hark Malba Tahan teria nascido em 1885, na aldeia de Muzalit, perto de Meca, tornando-se ainda muito jovem, prefeito (queimaçã) de El Medina. Rico, com a herança deixada pelo pai, Tahan teria viajado por vários países como a Rússia, a Índia e o Japão. Conta, também, a "biografia" que ele teria falecido em 1921, na luta pela libertação de uma tribo na Arábia Central.

Quase todos dos mais de 50 livros escritos sob o pseudônimo Malba Tahan têm como personagens xeques, beduínos, califas; e se ambientam no deserto, em hospedarias e palácios, em Damasco, em Bagdá ou em aldeias persas. Seus livros narram saborosas aventuras, cheias de magia - muitas delas são inspiradas em lendas e contos árabes - e inúmeras referências a termos e expressões típicas, tais como: Alaú Abkar! (Deus é grande!), chamir (chefe de caravana), além dos mais tradicionais ensinamentos da cultura árabe.

É quase uma afirmação imprecisa dizer que Malba Tahan é o pseudônimo de Júlio César de Mello e Souza. Primeiro, porque Júlio César se auto-denominava Malba Tahan para seus alunos e alunas do Colégio Pedro II e do Instituto de Educação, chegando a carimbar, como visto para os trabalhos demandados, o nome em caracteres da língua árabe. Segundo, porque a popularidade do nome árabe era tamanha, que o presidente Getúlio Vargas autorizou o acréscimo do mesmo na carteira de identidade de Júlio César. Terceiro, porque tanto sua obra literária quanto suas idéias sobre o ensino das ciências em geral, e da matemática, em particular, são referidos internacionalmente a Malba Tahan. Basta uma rápida pesquisa na internet para constatar a importância de Malba Tahan e do seu best-seller "O Homem que Calculava", citados em sites de várias nacionalidades inclusive em grego, alemão e holandês.

Admirado por Lobato e Borges

O livro "O Homem que Calculava", publicado pela primeira vez em 1938, já foi traduzido para mais de 12 idiomas, entre eles o inglês, tanto nos EUA quanto na Inglaterra, o espanhol, o italiano, o francês e o catalão. Foi premiado pela Academia Brasileira de Letras e despertou a admiração de escritores imaginativos como Monteiro Lobato e Jorge Luís Borges - este último, um amante confesso dos contos árabes.

O livro conta as aventuras de Beremiz Samir, homem com exímia habilidade para o cálculo. Beremiz resolvia com mestria, leveza e precisão contratempos e situações espinhosas de qualquer natureza, através do uso da matemática.

Júlio César nasceu dia 6 de maio de 1895, no Rio de Janeiro, e faleceu em Pernambuco, em 18 de junho de 1974, onde apresentava uma das suas inúmeras e requisitadas palestras. Deixou dois importantes registros sobre sua vida e obra: seu livro de memórias cujo título é "Acordaram-me de Madrugada", e seu depoimento gravado no Museu da Imagem e do Som (MIS), do Rio de Janeiro. Antes de morrer, pediu para ser enterrado sem homenagens, flores ou coroas, como uma pessoa simples, originária do Oriente Médio. Para justificar que não gostaria que adotassem luto em sua homenagem, citou versos do compositor brasileiro Noel Rosa: "Roupa preta é vaidade/ para quem se veste a rigor/ o meu luto é a saudade/ e a saudade não tem cor".


ANBA

Mauricio de Sousa quer a Turma da Mônica falando árabe

O criador das histórias em quadrinhos mais populares do Brasil quer levar seus personagens para os países árabes. Ele acaba de lançar o longa-metragem de animação "Cine Gibi" e fala de seus planos de internacionalização. Suas criações já são conhecidas na Itália, Portugal, Japão, Grécia, França e Indonésia.


Mônica briga com o Cebolinha: Personagens dominam 70% do mercado brasileiro de revistas infantis

Isaura Daniel

São Paulo - A Mônica é uma menina dentuça, dona de um coelhinho azul, que vive de briga com os seus amiguinhos Cebolinha e Cascão. Cebolinha fala errado e Cascão não gosta de tomar banho. Eles têm outra amiguinha, Magali, uma garota gulosa capaz de devorar dez melancias de uma só vez. Os quatro são os principais personagens da Turma da Mônica, a mais famosa série de revistas em quadrinhos infantis do Brasil, que acaba de ganhar mais uma versão para o cinema e que poderá ser comercializada em países árabes.

Mauricio de Sousa, o cartunista criador dos personagens, lançou nesta segunda-feira (28) o filme "Cine Gibi", com os integrantes da turma, e falou que tem a intenção de levar as suas historinhas para as crianças árabes. "Quem sabe teremos a Mônica falando em árabe", disse.

As peripécias da turminha já são conhecidas na Itália, Portugal, Japão, Grécia, França e Indonésia, por meio de gibis e tirinhas publicadas em jornais e revistas. "Também estamos tentando abrir os mercados do México e da China", acrescentou.

Na Itália, a Turma da Mônica chegou primeiro por meio de desenho animado. O canal RAI Due transmite as historinhas há cerca de seis meses. Os gibis chegaram aos italianos apenas na semana passada. No Brasil, a turminha ganhou popularidade mesmo por meio das revistas em quadrinhos.

Atualmente são dois milhões de exemplares vendidos ao mês. Os personagens, porém, vêm avançando para os meios de comunicação audiovisuais. Além da versão para o cinema, estreou domingo (27) um desenho animado no Cartoon Network, canal de televisão por assinatura.

"Cine Gibi"

Cebolinha, Mônica, Magali e Cascão já foram personagens de cinema entre os anos 1980 e 1990 no Brasil. Os desenhos passados na televisão italiana e os transmitidos pelo Cartoon Network são as produções da época recuperadas. O filme lançado ontem, porém, é novo. A fita vai passar em mais de 150 salas no Brasil a partir de 9 de julho.

"Cine Gibi" conta a história do Franjinha, o personagem inventor da Turma da Mônica, que criou uma máquina de transformar histórias em quadrinhos em filme. Seus amigos, Cebolinha, Mônica, Magali e Cascão, vão ao cinema ver a transmissão e se deparam com seis histórias que já estão nos quadrinhos.

Entre uma ida ao banheiro e uma compra de pipocas, os quatro encontram celebridades da televisão e da música brasileira, como a cantora Vanessa Camargo, a dupla Pedro e Thiago, os apresentadores Fernanda Lima e Luciano Huck, e o próprio desenhista Mauricio de Sousa.

A intenção de Mauricio é levar o filme, assim como os demais desenhos animados, também para outros países. O primeiro a receber o "Cine Gibi" deve ser a Itália, no ano que vem. "Vamos trocar os atores país por país", diz Mauricio sobre a participação de celebridades locais no filme. Já há outras quatro histórias da Turma da Mônica programadas para filmagem: "Viagem no Tempo", "Horácio", "Chico Bento" e "Estrelinha Mágica". Foram gastos R$ 5 milhões com o desenvolvimento deste primeiro filme, dirigido por José Márcio Nicolosi.

O cartunista

As criações de Mauricio de Sousa dominam 70% do mercado de revistas infantis em quadrinhos no Brasil e estão no mercado desde 1959. Na época, o cartunista criou a tirinha Franjinha e Bidu, sobre um menino inventor e seu amigo cão, para o jornal Folha da Manhã, de São Paulo, onde trabalhava como repórter policial.

A personagem Mônica nasceu em 1970, inspirada na filha de Mauricio. Hoje, 150 artistas trabalham com o cartunista na produção das historinhas.

Os personagens fazem tanto sucesso que geram cerca de outros três mil subprodutos, entre bonecos e joguinhos licenciados. Existem no Brasil, inclusive, dois parques de diversão da Turma da Mônica, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro.

Site da Mônica
www.monica.com.br

Fonte: ANBA

Brasileira cria site para divulgar o Islã

Internet não é usada apenas pelo terrorismo

Catharina Epprecht


O uso da internet no terror islâmico é um assunto cada vez mais difundido. Vídeos de prisioneiros sendo degolados e até páginas de grupos terroristas são encontrados na rede. Mas a ferramenta também é usada para fortalecer os laços entre muçulmanos e promover conhecimento, divulgando o islã como religião pacífica e respeitadora da mulher.

Desde fevereiro de 1999, funciona o Islamic Chat (www.geocities.com/islamicchat em breve com domínio próprio em http://islamicchat.org), que apesar do nome é uma página em português, criada por uma brasileira.

- Dei palestras na Sociedade Muçulmana Brasileira e um curso de extensão na Uerj sobre o islã. Achei que a internet era o veículo ideal para continuar a passar essas informações, alcançando um número maior de pessoas - explica, ao JB, Maria Moreira, que se formou em engenharia, mora no Egito e, até criar o site, não tinha prática com webdesign.

Maria se converteu em 1990. Seu site traz diversos artigos sobre a religião, em assuntos introdutórios, como um breve histórico dos muçulmanos, ou mais profundos, como a história das escolas de jurisprudência islâmica. Também há temas que vão desde a maneira correta de se portar à mesa - entre outras indicações, os muçulmanos devem comer usando a mão direita e, no caso de fazê-lo sem talheres, devem usar apenas três dedos - até uma explicação de por que ''Guerra Santa'' é uma péssima tradução para a palavra ''Jihad''.

- A internet é ótima para aproximar pessoas, independentemente da crença - diz.

Além dos artigos, o site traz um fórum de discussões e um classificado matrimonial no qual se procuram pessoas ''com Alá no coração'' ou que sigam ''os mandamentos de Alá'' para dividir sua vida.

Nos fóruns há receitas, discussões sobre questões polêmicas como homossexualidade e casamento interreligioso e espaço para tirar dúvidas. Algumas chegam a ser bem peculiares para quem não conhece a religião, como, por exemplo, se tatuagem é haram (pecado) ou se homens podem usar gravatas de seda (de acordo com o Corão, a seda é tecido proibido aos homens).

A página defende que violência e excessos contra a mulher não são dignos do islã. E apesar de o site se definir como espaço feminino na internet, a participação masculina é intensa. Ao negar o tabu de que o sexo feminino no islã não tem direitos, Maria argumenta:

- O site procura focar no papel da mulher no islã mas não exclui os homens da discussão. Não existe possibilidade de homens e mulheres conviverem e se entenderem, se não for através do conhecimento mútuo. Não adianta nada as mulheres ficarem trocando informações apenas entre elas, se os homens não participarem dessa troca.


Fonte: Jornal do Brasil

'Águas de Março' e o pensamento árabe

Estudiosos detectam construções de origem oriental na letra do compositor brasileiro Tom Jobim, e a comparam a um dos primeiros grandes textos poéticos da literatura árabe, escrito há mais de 1500 anos.

Cristina Iori

São Paulo - Uma das mais belas composições de Tom Jobim, "Águas de Março", com sua letra composta por rápidos e cortantes flashes do cotidiano, remonta às construções de linguagem e pensamento árabe. Esta é a conclusão de artigo publicado por Aida R. Hanania, vice-diretora e professora-titular do Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e Jean Lauand, professor-titular da Faculdade de Educação da USP.

"...Grande e grandiosa, inquietante, 'Águas de Março' soa aos nossos ouvidos, sempre de novo, como diz sua letra, como 'um mistério profundo'. Parte desse mistério reside, talvez, no fato de a poesia (...) nos arrancar de nossos padrões usuais de pensamento ocidental e nos conduzir às formas de pensamento do Oriente, "lugar" por excelência do mistério (...)", escreveram Aida e Lauand em artigo publicado originalmente no Jornal da Tarde, de São Paulo, em 1991.

Segundo os autores, Tom Jobim lança mão de estruturas semelhantes à linguagem-pensamento árabe em "Águas de Março". Em vez de longos discursos ocidentais, encontramos imagens concretas. Assim, o verso "passarinho na mão, pedra de atiradeira", substitui o modo ocidental que seria usado para narrar o ato de apanhar um passarinho com estilingue. Este e outros versos - como "carro enguiçado, lama, lama"-, consolidam a semelhança da letra da música com o caráter oriental de pensamento, onde se empregam, segundo os autores, frases nominais e não o "é", pois trata-se de forma fraca, descartável, desse verbo.

Escrevem os autores: (...) "a orientalização chega ao extremo quando no final da canção, interpretada por Tom e Elis (Elis com riso mal contido), o verbo ser é suprimido e se diz simplesmente:

"Pau, pedra, fim, caminho
Resto, toco pouco sozinho
Caco, vidro vida, sol
Noite, morte laço, anzol (...)"

Aida Hanania e Jean Lauand comparam o estilo adotado por Tom Jobim em "Águas de Março" com um dos primeiros grandes textos poéticos da literatura árabe, escrito há 1500 anos. Trata-se de uma composição do orador e poeta Quss Ibn-Sa'idah, em que este descreve a grandiosidade do mundo e convida a uma reflexão sobre a transitoriedade da condição humana. Os autores fizeram uma tradução desta poesia de Sa'idah ajustada à melodia de "Águas de Março", (a partir dos versos para que a semelhança se fizesse ainda maior, embora mantendo ainda totalmente a forma de expressão do pensamento árabe).

"(...)Noite escura, um dia de paz
O céu, um assombro, espaços siderais
Estrelas brilhando, mares a se agitar
Montes assentados, terra a atapetar
O que vive, morrendo; o que morrer, findando
Vai, vir, virá, a a-passar, passará
No céu, sinais; na terra, lição
Causa, porquê, explicação
Gente vai e não volta, qual a razão?
Sono profundo?, satisfação?
Onde nossos primeiros? Onde pais e avós?
Onde o grande poder dos fortes faraós?(...)"

Em relação à tradução acima, os autores alertam que há muito mais uso de frases nominais do que a tradução comportaria. Pois os árabes, ao invés de dizer "estrelas que brilham" ou "mares que se agitam", na verdade dizem "estrelas protagonistas no ato de brilhar" (nujúmun tazhar) e "mares protagonistas do ato de se agitar" (bihhárun tazkhar). Veja ao final desta página a poesia original em idioma árabe.

Jean Lauand e Aida Hanania são estudiosos da cultura árabe. Lauand conclui livre-docência na USP com a tese "Educação Moral e Provérbios: Os Amthal Árabes e o Pensamento de Tomás de Aquino" e é fundador do Centro de Estudos Medievais - Oriente & Ocidente, na USP. Aida é autora do belíssimo livro ilustrado "A Caligrafia Árabe e a Arte de Hassan Massoudy" (Editora Martins Fontes). A obra trata a caligrafia árabe em sua tripla dimensão: educativa, iconográfica e estética. O leitor é levado não só às origens dessa arte, a mais fiel expressão do mundo árabe-islâmico, como também à palavra alcorânica e aos alicerces da cultura árabe em geral.

Veja o texto original de Ibn-Sa'idah, com ligeiras reduções e adaptações feitas pelos autores do estudo sobre Tom Jobim. Segundo os autores, de for acrescentado ao poema árabe os "és" e os "são", ou se forem suprimidos estes verbos de "Águas de Março", fica evidente o caráter oriental das formas poéticas de Tom.

La-y-lun daj ua naharun saj
Ua sama 'un dhatu abraj
Ua nujúmun tazhar Ua jibalun mursáh
Ua bihharun taskhar Ua ardun mudháh
Ma bal an-n-asi yadhhabúna
Ma bal, ma bal hum la yarj'aúna?
Ínna fy assama'i lakhabara
Ua ínna fy-lardi la'ibara
Ayna-l-aaba'u? aaráddu faqámu?
Ayna-lfara'inatu? túriku fanámu?
Man'aasha maat ua man maat faat
Ua kulun ma hwa aatin aat

Fonte: ANBA

A leveza do deserto na prosa e poesia brasileiras

A influência da cultura árabe é evidente na obra dos inúmeros escritores de origem sírio-libanesa no Brasil, mas também pode ser sentida na estrutura narrativa de contos e romances de todo o Ocidente, que não seriam os mesmos sem a magnífica e eclética herança de "As Mil e Uma Noites".

Paula Quental

São Paulo - A arte de escrever, seja em prosa ou poesia, está profundamente relacionada à cultura árabe, cuja tradição da palavra escrita tem raízes no hábito da leitura do Alcorão, e as descrições literárias na vida nômade do deserto. A influência dessa cultura é sentida na estrutura narrativa do conto e do romance ocidentais, defende o crítico e escritor Caio Porfírio Carneiro, autor de "O Sal da Terra" (Editora Ática), já traduzido para várias línguas, inclusive o árabe. "A literatura árabe, para além da riqueza da imaginação, é a sutileza do como dizer - uma leveza que tem muito do universo contemplativo do deserto", ensina.

Essa herança estaria condensada na magnífica obra "As Mil e Uma Noites", conhecida dos ocidentais há apenas 300 anos, mas que reúne histórias oriundas da Pérsia e da Índia, de autores anônimos dos séculos 8 e 9, de acordo com Porfírio Carneiro. Elas foram compiladas ao longo do tempo até serem compactadas no século 15 pelos árabes, "que lhes conferiram feição definitiva e única".

"O livro deu novo alento à técnica do conto, à narrativa fantástica. Sublimação lírica que inoculou a poesia em geral. O curioso, o fantástico, sutis conceitos filosóficos. Uma narrativa ficcionada, lírica, que os árabes lançaram como foguete mágico mundo afora. Eles interpretaram o mundo e alma orientais, mas a essência é árabe", diz o escritor. "Eu que sou contista tive uma surpresa especial ao observar que está tudo lá em matéria de conto, o fantástico, o erótico, o alegórico".

"As Mil e Uma Noites" tornou-se conhecida na Europa no início do século 18 e talvez seja o livro mais traduzido do mundo, perdendo apenas para a Bíblia e o Alcorão. Para Porfírio Carneiro, o seu legado, que pode ser estendido a toda a literatura árabe, é, além disso, a linguagem musical, a estrutura narrativa que seduz, a dimensão humana, o oposto da visão científica.

"A cultura árabe é uma cultura muito doce, muito humana, muito poética, apesar dos transtornos com os quais ela é identificada nos nossos dias", afirma.

Os árabes na literatura brasileira

Apaixonado por pesquisa e por tudo o que se relaciona à literatura (é também dono de uma biblioteca de 6 mil livros e secretário-geral da União Brasileira dos Escritores, a UBE), Porfírio Carneiro, a pedido do Centro Cultural Árabe-Sírio, em São Paulo, onde fez uma palestra no último 7 de abril, tentou identificar o que há em comum entre os escritores descendentes de árabes no Brasil e sua influência na cultura brasileira.

Para começar, a lista de escritores de origem sírio-libanesa que nasceram ou adotaram o país é imensa. Raduan Nassar, Milton Hatoum, Leon Eliachar, Jorge Medauar, Jorge Tufik, Jorge Tanure, Salim Miguel, João Batista Sayeg, Carlos Nejar Malba Tahan (pseudônimo de Júlio Cesar de Souza, autor de "O Homem que Calculava", que não era árabe, mas escreveu como um), são apenas alguns deles.

O primeiro nome lembrado por Porfírio Carneiro é o do jornalista e compositor Jorge Vidal Faraj (1901-1963), "o mais romântico e lírico letrista da MPB das décadas de 1930 e 1940". Faraj foi autor de memoráveis canções gravadas por Orlando Silva, Francisco Alves, Sílvio Caldas e Carlos Galhardo. Uma das mais conhecidas é a valsa "Deusa da Minha Rua" ("A deusa da minha rua/tem os olhos onde a lua/costuma se embriagar/Nos seus olhos eu suponho/O sol, num dourado sonho/vai claridade buscar..."), em parceria com Newton Teixeira. Um lirismo que, segundo o escritor, tem inequívoca raiz árabe.

Nem todos buscaram ou buscam escrever sobre as próprias origens, como o octogenário escritor e jornalista Salim Miguel, nascido no Líbano e radicado em Santa Catarina, autor de "Nur na Escuridão" (Editora Top Books). O livro, que conta a história de sua família, libaneses que aportaram no Rio de Janeiro sem saber o português - luz, nur em árabe, foi a primeira e emblemática palavra aprendida pelo patriarca Yussef, pai de Salim - é o 18º do autor, e foi premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).

O que une a maioria dos escritores brasileiros descendentes de árabes, segundo Porfírio Carneiro, são os traços que podem ser remetidos à sua origem comum: além do lirismo, do aspecto humano, a "sobriedade da prosa e um grande talento para trabalhar personagens infantis".

"O poeta filho de libaneses Jorge Tufik, por exemplo, tem dado contribuição importantíssima à literatura nacional: na sua obra, repleta de lendas da Amazônia, a linguagem poética tem o sopro dos ventos das 'Mil e Uma Noites'", descreve ele. Tufik e tantos outros, entre os quais o premiadíssimo Raduan Nassar ("Um Copo de Cólera" e "Lavoura Arcaica", ambos livros adaptados para o cinema), considerado um dos melhores escritores brasileiros contemporâneos, têm, de acordo com Porfírio Carneiro, "a leveza do lavor poético, uma escrita que não cai nas construções apenas cerebrais".

A influência dos árabes na literatura brasileira, porém, começa nas marcas desta cultura deixadas em Portugal, já que os árabes dominaram a Península Ibérica por oito séculos. São milhares de palavras portuguesas de origem árabe. "A cultura ibérica é impregnada da arte mourisca", diz o escritor. E isso para além dos vocábulos, também na alma singela e poética.

Fonte: ANBA

Conheça os bancos islâmicos, que movimentam US$ 200 bi por ano

Angela Martins, diretora do banco ABC Brasil, escreveu um livro sobre a prática bancária islâmica, norteada pelos princípios do Alcorão, e que leva em conta a ética e a responsabilidade social. Não existem juros, mas os lucros são bem-vindos. Como se trata de uma atividade crescente, Angela acredita que os brasileiros interessados em fazer negócios com os árabes devem aprender mais sobre o sistema.

Alexandre Rocha

São Paulo - Você sabe o que é um banco islâmico? Bom, do ponto de vista financeiro são instituições que movimentam todos os anos cerca de US$ 200 bilhões ao redor do mundo. Mas, diferentemente do sistema financeiro tradicional, o trabalho dessas entidades é norteado pelos princípios do Alcorão, que é o livro sagrado para os muçulmanos, e prega a ética e a responsabilidade social. Para mostrar aos brasileiros a prática bancária islâmica e gerar oportunidades de negócios, a diretora do Banco ABC Brasil, Angela Martins, escreveu "A Banca Islâmica", o primeiro livro em português sobre o assunto, que será lançado na próxima semana.

"(O Islamismo) é a religião que mais cresce no mundo. Então, a banca islâmica é uma coisa importante para as pessoas prestarem um pouco mais de atenção, principalmente num país que diz ter interesse em aumentar suas relações com os países árabes, que em sua maioria são muçulmanos", disse Angela, formada em administração de empresas, com especialização em finanças, e que há oito anos trabalha no ABC Brasil, controlado pelo banco árabe Arab Banking Corporation.

Segundo ela, a usura e a especulação são práticas vetadas no mundo financeiro islâmico, não existem juros e a palavra de ordem é "parceria". "Quando o banco islâmico compra açúcar à vista do fornecedor brasileiro e vende a prazo para o importador muçulmano, ele corre o risco junto com o importador", disse. Mas isso não quer dizer que instituição não pode ter lucro, muito pelo contrário, ela cobra pelos serviços oferecidos.

Além disso, essas instituições, de acordo com ela, podem ser fontes de recursos para investimentos no Brasil, pois esses bancos aplicam muito no setor imobiliário, mesmo fora do Oriente Médio. "Isso é algo que o Brasil poderia tentar", afirmou.

Para ilustrar a importância da banca islâmica, ela disse que a Universidade de Harvard, nos EUA, criou uma cadeira específica sobre o assunto. Mas o Brasil continua "apartado da questão". Leia abaixo os principais trechos da entrevista que ela concedeu à ANBA:

ANBA - Por que a senhora resolveu escrever o livro?
Angela Martins - O ABC (internacional) sempre teve uma atuação importante nessa área e nossos colegas lá do Bahrein (sede do banco) começaram a oferecer produtos. Nós aqui não conhecíamos e eu comecei a me aproximar deles para entender melhor. Os bancos da região do Golfo conhecem muito bem o ABC Brasil, nos consideram, fazemos negócios com eles. E eu notei que, por haver um total desconhecimento do que é "islamic banking" no Brasil, muitas vezes isso é um impedimento para essas operações. Então eu achei que seria interessante fazer um livro explicando como funciona o sistema. Na medida em que a gente mostra o produto, pode haver maior interesse, tanto na parte de comércio exterior, porque muitas operações de exportações brasileiras podem ser feitas dessa maneira, como também pensando, no futuro, em oferecer produtos islâmicos para a comunidade muçulmana no Brasil.

A senhora não é de origem árabe, é?
Sou brasileira, descendente de italianos e portugueses, aquela famosa misturinha brasileira, e sou cristã, não sou muçulmana, sou uma estudiosa do assunto. Mas tenho muitos amigos na região. Os bancos mais importantes da região do Golfo, bancos islâmicos como o Dubai Islamic Bank e o Shamil Bank, eu tenho uma relação de amizade com o pessoal de lá. Quer dizer, nós conseguimos aqui no Brasil ter uma relação direta com esses bancos, não apenas com os bancos islâmicos, mas com outros bancos árabes que têm divisões islâmicas e conseguimos ter uma relação muito próxima. Existem outros bancos internacionais que fazem "islamic banking", como o HSBC e o Citibank, só que a relação deles não é assim tão direta quanto a nossa.

Quanto tempo a senhora demorou para escrever?
Olha, o embrião do livro foi a monografia que eu fiz para o meu MBA em 2001, sobre a banca islâmica. Eu aproveitei a base da monografia e transformei o texto em algo mais palatável, mais fácil, porque normalmente um texto de monografia é mais técnico, com muitas referências, então fica mais chato. Eu reescrevi de uma forma mais leve.

O que é a banca islâmica?
Na verdade é um conceito bem mais profundo do que aquela coisa que as pessoas falam: Ah, banco islâmico é apenas um banco que não cobra juros.

Mas não cobra juros?
Não cobra juros, mas o princípio é muito mais profundo do que esse. O que diferencia a banca islâmica da banca convencional é o seguinte: O banco islâmico faz uma parceria com o cliente. Se na banca convencional você quer comprar um carro, seu crédito será avaliado e o banco vai te emprestar um recurso e, se você não tiver condições de pagar, ele toma o carro de volta. No caso da banca islâmica a avaliação é feita de maneira diferente. Ela entende que toda vez que você vai ao banco com alguma necessidade ele tem que entrar no negócio e correr o risco junto com você, como se fosse uma parceria. O que é proibido no islamismo é a usura. O que, se você fizer uma análise mais profunda, também é proibido pelo catolicismo, só que isso já não se utiliza tanto na prática bancária. Não cobra juros, mas pode ter um lucro. Não é proibido ter lucro, o que é proibido é cobrar o juro, o juro sobre juro, o juro em cima de nada. Cobrar por um serviço prestado é legítimo, o que não pode é apenas especular com o dinheiro, não existe o valor do dinheiro no tempo na banca islâmica.

Você compra um carro e embute um valor que será seu lucro. Na prática isso não seria um juro?
É mais uma questão de conceito. Quer dizer, o juro normalmente incide sem que a instituição agregue qualquer tipo de valor. No caso do lucro não. Por exemplo, no caso de uma operação de comércio exterior, quando o banco islâmico compra açúcar à vista do fornecedor brasileiro e vende a prazo para o importador muçulmano, ele vai correr o risco junto com o importador, o risco da mercadoria não estar adequada, como se ele fosse o real importador. Então é justo que ele tenha algum ganho, porque, na verdade, ele está servindo ao importador que só poderia comprar a prazo. E ele sempre vai estar agregando valor de alguma forma. Isso é apenas um detalhe mas, por exemplo, na banca islâmica você não pode negociar dívida, não especula com o valor do dinheiro no tempo, ou seja, tenta-se evitar todos os tipos de especulação.

Mas, na prática, não seria a mesma coisa?
Na prática em uma única visão sim. O que se considera perigoso ou ilegítimo do ponto de vista islâmico é quando você olha para a banca convencional e vê toda a especulação que existe ao redor. Tem toda a especulação com papéis, todas as posições de presente e futuro, todas as operações de mercado que não existem na prática islâmica.

Mas na hora de colocar esse lucro eles também avaliam o risco do cliente?
Claro, é avaliado. Não só o risco do cliente, mas todo o risco da operação. Outra coisa, o banco islâmico também cuida para que o produto comprado esteja de acordo com as leis da Sharia. Por exemplo, ele nunca vai financiar a compra de bebidas alcoólicas ou de carne de porco.

Existe uma limitação para esse lucro?
Não existe uma limitação no sentido de um órgão que delimite isso. Mas a própria prática do mercado faz com que existam limites razoáveis. Dificilmente você vai encontrar um banco islâmico que seja ganancioso, que aja fora do que é considerado razoável. Até porque ele não deixa de ganhar o dinheiro, uma vez que o depositante não vai receber juros por suas aplicações. Quando ele capta recursos e quando ele empresta recursos os parâmetros são os mesmos, então ele consegue fazer nesse lucro um diferencial que o viabiliza.

Vamos supor que o cliente vá ao banco islâmico aplicar dinheiro. Ele vai remunerar com lucro também?
Também. Existem várias formas de aplicar. Você pode tanto guardar seu dinheiro no banco, daí é um recurso não remunerado. Mas se você quer ter uma remuneração, pode participar com o banco dessas operações. Por exemplo, a importação de açúcar. Quando o banco compra em nome do importador que precisa do prazo, ele pode fazer isso junto com esses clientes que querem remuneração.

Eles se tornam sócios na operação então?
Exatamente. A grande diferença é essa. O investidor passa a ser um sócio numa operação e as responsabilidades são muito mais parecidas com as de um sócio do que de um simples investidor.

Quer dizer, se a carga afundar no mar, azar?
É um risco que ele corre solidariamente ao importador.

É possível viabilizar exportações brasileiras por esse sistema?
Já existiram. A Marcopolo já exportou ônibus para a Arábia Saudita e teve a operação financiada por esse sistema. A Petrobras já fez operações de "islamic banking". A possibilidade existe. Por isso que eu acho interessante que as pessoas entendam melhor como funciona porque é um mercado que gira mais de US$ 200 bilhões por ano e, para interagir com ele, você precisa entender como funciona.

É possível atrair investimentos ao Brasil por esse sistema?
Sem dúvida. Muito dos investimentos feitos pelos muçulmanos são aplicados no mercado imobiliário. Hoje na Inglaterra, e mesmo nos Estados Unidos, existem grandes fundos que administram recursos de muçulmanos lastreados em imóveis. Isso é uma coisa que o Brasil poderia tentar. Não é uma coisa simples, é uma coisa de longo prazo, porque, para atrair, teriam de existir projetos muito bem estruturados. Mas eu acho plenamente viável.

Quando esse sistema começou a ser praticado de forma mais institucional?
A banca islâmica começou a ganhar força a partir dos anos 70 e foi se encorpando a partir dos anos 80. Como sistema ele é razoavelmente recente, está em evolução.

Na década de 1970 houve o grande boom do petróleo na região. Pode-se dizer que, além da religião, ele é fruto do petróleo também?
Eu não diria que é fruto do petróleo, tem tudo a ver com a religião. A questão do petróleo é que a região passou, nessa época, a ter um caráter mais independente e, por conta disso, todas as instituições começaram a se estruturar melhor. O petróleo tem importância porque os países da região começam a surgir como países fortes e, com uma liquidez tão grande, passou a fazer sentido ter uma banca que administrasse esses recursos.

As operações de compra e venda seriam as mais interessantes para os empresários brasileiros?
Não só isso, existem produtos islâmicos equivalentes ao leasing e ao pré-financiamento de exportações. Mesmo aí existe o conceito na banca islâmica de que, a princípio, você não pode vender aquilo que ainda não tem, o que é diferente da banca convencional, onde você compra e vende expectativas. Não pode vender um bezerro só porque você tem um touro e uma vaca, é preciso antes ter o bezerrinho nascido para vender. Mas existem formas de pré-financiar estruturadas, de forma que o banco pode ajudar aquela empresa que precisa um capital de giro.

Ele vira sócio da produção?
Exato. Existe toda uma forma de fazer isso para que você possa contar com o financiamento antes da produção da mercadoria.

A senhora acha essencial para quem quer entrar no mundo árabe conhecer um pouco mais esse sistema?
Não sei se a palavra é "essencial". Mas se você está negociando com países islâmicos, ainda que você opte por fazer as suas operações financiadas da forma tradicional, é importante conhecer esta outra alternativa. Existe lá uma banca enorme, com grande potencial de recursos e que pode ser interessante para explorar. Não vai ser a única fonte de recursos, mas ela está crescendo e pode vir a ser essencial e pode ser interessante para alguns importadores específicos.

Pode haver alguma restrição por parte do importador se esse sistema não for adotado?
O mundo todo está se voltando para as questões éticas, morais e isso importa muito para as pessoas mais voltadas para a religião, que têm interesse em ver suas atividades mais próximas dos seus princípios. Por isso eu acredito que, cada vez mais, os muçulmanos vão querer ter suas atividades financeiras dentro dos princípios da sua religião.

É possível dizer que no futuro a maioria das operações nos países árabes será feita dessa maneira?
Não digo a maioria. Mas é a religião que mais cresce no mundo. Então, no mínimo, é uma coisa importante para as pessoas prestarem um pouco mais de atenção. Principalmente num país que diz que tem interesse em aumentar suas relações com os países árabes, que em sua maioria são muçulmanos.

Serviço

A Banca Islâmica
156 páginas
Autora: Angela martins
Editora: Qualitymark
Preço: R$ 30
Lançamento: Dia 6 de agosto a partir das 19 horas
Onde: Livraria Saraiva do Shopping Iguatemi, na Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.232, piso Faria Lima, São Paulo (SP)

Fonte: ANBA

Casal dos EUA criou brinquedo para incentivar valores do islã entre meninas

Boneca de véu que lê Alcorão é alternativa islâmica à Barbie

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Barbie provavelmente teria um chilique: afinal, de que lhe valeriam as voluptuosas curvas e o aparentemente infindável guarda-roupa se sobre ambos ela tivesse de usar um casaco largo e um véu para disfarçar as formas e cobrir as loiríssimas melenas?
O fato é que aquilo que para a loira plastificada seria um despropósito é exatamente o que faz o sucesso de sua nova concorrente. Em suas três diferentes versões de pele e cabelo (loira, morena e negra), a modesta Razanne usa com devoção seu hijab -o véu islâmico- e só cede aos apelos da moda quando está dentro de casa.
Dinâmica, ela reza, lê o Alcorão, estuda, brinca, dá aula e até participa das tropas muçulmanas de escoteiros. Tudo no maior recato.

Nascida há seis anos da imaginação de um casal de muçulmanos americanos, Razanne se tornou um sucesso no ano passado, ao ganhar a atenção da imprensa na esteira da polêmica proibição da venda da Barbie na Arábia Saudita -curiosamente, segundo seus criadores, os jornalistas inicialmente se interessaram por pensarem que se tratasse de uma contrapartida árabe à exuberante boneca americana.

"A idéia era dar uma alternativa às meninas muçulmanas aqui nos EUA. Nós as víamos brincando com a Barbie, toda chamativa, com roupas que mostram o corpo, e pensávamos: é esse o tipo de modelo de comportamento que queremos para nossas filhas? Ela não parece com as mães delas. Não parece com as roupas que elas vão usar mais tarde", disse à Folha Sherrie Saadeh, uma americana "na casa dos 40" convertida ao islamismo há 15 anos.

Foi Sherrie e o marido, Ammar, que desenvolveram a boneca. "Na verdade, quem pensou primeiro foi ele, e acho engraçado que um homem tenha pensado nisso. Afinal, eles ficam o tempo todo dizendo como são justos com as mulheres muçulmanas, mas é difícil fazerem algo assim", ri.

O casal é dono da NoorArt, uma pequena fábrica de brinquedos e produtos educativos em Livonia, Michigan, especializada em crianças muçulmanas.

Sherrie é gerente de produção e "estilista" de Razanne. E não pense que o trabalho se limite a criar véus -há versões de Razanne com coloridíssimas túnicas, como as usadas pelas muçulmanas no sudeste da Ásia, e a cobiçada versão "in and out": com um casaco e um hijab para vestir na rua e um florido vestido acinturado e sem mangas para usar em casa.

"Razanne ajuda as meninas muçulmanas a entenderem que em casa elas podem estar na última moda e ter roupas atraentes, embora na rua se vista com recato", anuncia o site da boneca.

"Minha filha de dois anos insiste que a Razanne use seu véu toda vez que sai de casa ou quando há homens presentes", diz um testemunho no site. "A Razanne fala para a Barbie usar o véu também", diz outro, aparentemente escrito por uma menina.

Sem namorado

A bem da verdade, Razanne se parece pouco com a turbinada Barbie. Com seu corpo de pré-adolescente, lembra muito mais a brasileira Susi, e suas maiores preocupações -ao contrário da prima famosa, que acaba de trocar o antigo namorado Ken por um surfista australiano- são estudar, rezar e brincar.

"A Razanne oferece um modelo de comportamento melhor e mostra que uma menina muçulmana pode brincar como qualquer outra", afirma Sherrie, mãe de um menino.
As vendas da Razanne ainda são tão modestas quanto seu figurino, sobretudo se comparadas às da Barbie -que, desde sua criação, em 1959, já teve mais de 1 bilhão de exemplares vendidos, segundo sua fabricante, a Matel.

Ammar Saadeh, "pai" e gerente comercial da Razanne, diz que nos últimos tempos as vendas atingiram uma média anual de 50 mil unidades. Ele não fala em faturamento, mas, a um preço médio de US$ 15 (a Razanne mais cara é a escoteira, US$ 21,99), é possível estimar que a boneca fature cerca de US$ 750 mil por ano. A Barbie vende US$ 3,6 bilhões.

O casal está otimista e diz ter registrado "um crescimento expressivo" das vendas (ainda não há números deste ano) desde que a boneca surgiu no noticiário.
Hoje a Razanne é vendida em lojas dos EUA, do Canadá, do Reino Unido, da Alemanha, do Kuait e de Cingapura, e também na internet (www.noorart.com). Negociações em outros países estão em curso.

Ainda constam dos planos a ampliação da linha étnica e da profissional, "com todas as profissões que uma garota muçulmana pode ter". "Também tem a linha formadora de caráter, que já tem a escoteira e terá a Razanne que participa de organizações comunitárias", conta Sherrie. "É legal porque, uma vez que seu corpo está coberto, você acaba dando mais atenção à sua personalidade. A personalidade da boneca passou a ser o mais importante."

Com tantos atrativos, não há pretendentes à vista? "Até hesitamos em fazer um boneco homem, porque o namoro no islã é diferente, sem contanto físico. E a Razanne ainda é muito nova", explica Sherrie. "Pode ser que mais para frente lancemos um irmão para ela. Mas namorado, não."

Fonte: Jornal "Folha de São Paulo" de 25/07/2004 - Versão impressa.

Projeto brasileiro ganha prêmio de Dubai para melhores práticas de gestão urbana


O programa de desenvolvimento humano da comunidade do Aurá, de Belém do Pará, foi um dos 10 contemplados pela premiação concedida a cada dois anos pela municipalidade de Dubai, Emirados Árabes Unidos, e pela ONU. O projeto, desenvolvido desde 1997, envolve o saneamento ambiental de um lixão de 140 hectares e a inclusão social de centenas de catadores de lixo.



Catadores do lixão agora trabalham na coleta seletiva de lixo de Belém

Alexandre Rocha

São Paulo - O Projeto de Desenvolvimento Humano da Comunidade do Aurá, promovido pela prefeitura de Belém, capital do estado do Pará no norte do Brasil, foi escolhido como um dos 10 ganhadores da edição deste ano do Prêmio Internacional de Dubai para as Melhores Práticas para a Melhoria das Condições de Vida, concedido pela municipalidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em parceria com o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UN-Habitat).

Aurá é, ou pelo menos era, um lixão que ocupa uma área de 140 hectares localizada a 19 quilômetros do centro de Belém e recebe diariamente 1,2 mil toneladas de lixo. Lá centenas de pessoas, muitas delas crianças, viviam, e várias ainda vivem, da coleta de material para abastecer a indústria da reciclagem.

Em 1997 a prefeitura da cidade, administrada pelo prefeito Edmilson Rodrigues (PT), começou a desenvolver um projeto de saneamento ambiental e inclusão social dos catadores de lixo. Ele começou com o programa "Semente do Amanhã", que inicialmente retirou do lixão 239 crianças que passaram a receber educação, tratamento de saúde e participar de atividades culturais em uma granja adaptada próxima ao local.

"Era grave o estado de saúde dessas crianças, algumas tinham até o vírus HIV (causador da Aids) e o índice de desnutrição chegava a 80%. Hoje esse percentual já diminuiu bastante", disse a diretora-geral da Secretaria Municipal de Saneamento de Belém e coordenadora do projeto, Ivanise dos Santos Carvalho.

Além do acesso das crianças à educação e ao tratamento médico, as famílias foram beneficiadas pelo "Bolsa Escola", programa da prefeitura que fornece um salário mínimo por mês para os pais carentes que colocarem seus filhos na escola. Este programa foi posteriormente criado no âmbito do governo federal e mais recentemente unificado com outros programas de transferência de renda para famílias carentes. Segundo Ivanise, 800 crianças já foram atendidas pelo "Semente do Amanhã".

Capacitação

Posteriormente, foram implementados projetos para os adultos, como a criação, em 2001, da Cooperativa de Trabalho dos Profissionais do Aurá. "A proposta era retirá-los de cima do lixão e colocá-los para a fazer a coleta de material reciclável na cidade", afirmou Ivanise. De acordo com ela, cada catador consegue ganhar entre um salário mínimo e R$ 400 por mês com este trabalho.

Atualmente, 45 catadores trabalham na coleta seletiva de lixo, número que deverá subir no futuro próximo, pois, segundo Ivanise, já foi aprovado um projeto em parceria com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que vai promover o serviço de coleta seletiva porta a porta no centro de Belém.

Em agosto será inaugurado um centro de triagem, onde 120 dos participantes do projeto vão trabalhar na seleção do material reciclável recolhido. Segundo Ivanise, a criação da cooperativa fez com que diminuísse a ação de "sucateiros", ou intermediários, que acabavam ficando com parte da renda dos catadores.

Até hoje, cerca de 450 catadores já participaram dos programas de Aurá. O projeto envolve também cursos de alfabetização promovidos pelo Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), dos quais 338 pessoas já participaram, e de capacitação profissional. Do total, 123 pessoas fizeram cursos organizados pelo Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em áreas como panificação, eletrônica, mecânica, costura e serviços de encanador.

"As ações não envolvem só os catadores, mas também as pessoas da comunidade instalada em torno do aterro", disse Ivanise. Segundo ela, 21 mil pessoas habitam os arredores de Aurá, boa parte na condição de favelados.

Agora em agosto, 70 catadores vão começar a trabalhar em um campo de plantio de gramíneas. Parte das plantas será comercializada e outra parte vai ficar com a prefeitura para uso nos espaços públicos da cidade.

Meio ambiente

O terreno de Aurá, segundo Ivanise, foi adquirido pela prefeitura de Belém, no início dos anos 1990, para ser transformado num aterro sanitário. Mas durante quase toda a década passada serviu como um lixão a céu aberto que recebia os detritos das 1,5 milhão de pessoas que vivem na capital paraense e em outros dois municípios vizinhos.

O projeto da prefeitura não envolve apenas programas de inclusão social, mas também obras públicas. Segundo Ivanise, o local foi realmente transformado num aterro, inclusive com a instalação de "células especiais" impermeáveis para a acomodação do lixo que aceleram sua decomposição.

"Havia uma grande preocupação de que o lixo poderia contaminar os lagos que abastecem Belém de água. Hoje essa ameaça foi eliminada", garantiu.

De acordo com ela, já foram investidos R$ 9 milhões nos programas de Aurá desde 1997, a maior parte proveniente de financiamentos obtidos pela prefeitura junto à Caixa Econômica Federal.

Premiação

"O prêmio (de Dubai) é um reconhecimento. É bom para as pessoas entenderem que o trabalho de inclusão social é um trabalho de mutirão, não é fácil fazer. É preciso muita coragem para enfrentar dificuldades legais, institucionais, a violência que existe na área e principalmente para fazer as pessoas acreditarem que podem mudar de vida. E isso só se consegue com trabalho, não com discurso", declarou Ivanise.

Os 10 projetos vencedores do prêmio de Dubai foram selecionados entre 650 programas de 95 países por um júri internacional, composto, segundo o jornal árabe Khaleej Times, por especialistas no assunto de países como Colômbia, China, Reino Unido, Canadá e dos Emirados. De acordo com informações da Emirates News Agency, o anúncio do ganhadores foi feito nesta segunda-feira (12) pelo diretor-geral assistente do departamento de Assuntos Administrativos e Serviços Públicos do município de Dubai, Obeid Salim al Shamsi.

O prêmio de US$ 30 mil para cada ganhador, mais um troféu e um certificado, será entregue em setembro, durante o Fórum Urbano Mundial, que será organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Barcelona, na Espanha. Além do Brasil, foram contemplados projetos do Canadá, China, Irã, Quênia, Palestina, Espanha, Togo e do Uzbequistão.

Ivanise não sabe ainda qual será o destino da verba que o projeto de Aurá vai receber. Isso será decidido por um colegiado que conta com representantes das secretarias municipais de Saneamento, Saúde, Economia, Educação e Meio Ambiente, além da Fundação Papa João XXIII, entidade vinculada à prefeitura que atua na área de assistência social.

No total, 106 projetos brasileiros concorreram ao prêmio, segundo informações do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), que representa no Brasil o programa de melhores práticas do UN-Habitat. Quatro deles ficaram entre os finalistas.

O prêmio, patrocinado pela municipalidade de Dubai, é concedido a cada dois anos desde 1996. Não é a primeira vez que o Brasil é contemplado. Logo na primeira edição um projeto de Fortaleza, no Ceará, foi vencedor. Em 2000 foi a vez de um programa do Amapá e, em 2002, ganhou um projeto da prefeitura de Santo André, na região metropolitana de São Paulo.

Fonte: ANBA

Marrocos quer fechar acordos de cooperação na área agrícola com o Brasil

Missão da Agência Brasileira de Cooperação esteve no país árabe este mês. Um dos participantes foi o diretor da Embrapa, Gustavo Chianca. Segundo ele, os marroquinos querem conhecer as experiências brasileiras com cana-de-açúcar, avicultura, 'plantio direto' e biotecnologia. Já os brasileiros querem saber mais sobre as laranjas, as oliveiras, a ovinocultura e a caprinocultura do Marrocos.

Alexandre Rocha

São Paulo - O Marrocos está interessado em fechar acordos de cooperação na área agrícola com o Brasil. Entre os dias 12 e 16 deste mês, o diretor-executivo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Gustavo Chianca, esteve no país árabe para tratar do assunto, como parte de uma missão organizada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores.

"O Brasil e a Embrapa têm muito interesse nessa região, por causa do clima, e na África em geral. O presidente Lula quer que a empresa seja uma passadora de tecnologia para o continente africano", disse Chianca, acrescentando que a Embrapa domina as técnicas agrícolas apropriadas para locais de clima tropical e semi-árido e pode fornecer uma "cooperação importante". "O Marrocos nunca teve um convênio específico com o Brasil nessa área", afirmou.

Do outro lado, Chianca disse que o Marrocos possui bons centros de pesquisa agrícola, boas escolas de agronomia, tem uma agricultura desenvolvida e, por isso, pode também dar uma contribuição valiosa o Brasil.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado grande atenção às relações do Brasil com a África e com os países árabes. Prova disso é que ontem (29) ele encerrou sua terceira viagem ao continente. Desta vez ele esteve em São Tomé e Príncipe, para participar da 5ª reunião de cúpula da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), no Gabão e em Cabo Verde. Durante a viagem foram assinados acordos de cooperação em vários setores. Em dezembro do ano passado, Lula esteve no Egito e na Líbia e, em novembro, em cinco países da África sub-saariana.

Chianca esteve no Ministério da Agricultura do Marrocos, no Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária (Inra), na Escola de Agronomia e Veterinária Rei Hassan II e na Escola de Agronomia de Meknes.

De acordo com ele, os marroquinos têm interesse na troca de experiências nas áreas de cana-de-açúcar, principalmente no que diz respeito aos "biocarburantes" (álcool); avicultura; "plantio direto", que é uma técnica utilizada em regiões tropicais e semi-áridas em que não há o uso de tratores para arar, é utilizada uma cobertura vegetal (palha) na terra, que a protege da erosão, conserva a umidade e ajuda a adubar o solo; e biotecnologia, principalmente o melhoramento genético de alguns produtos, como milho e feijão, que os tornam mais resistentes à seca.

Chianca destacou que o Brasil ocupa uma posição de liderança nas pesquisas nessas áreas. No caso dos frangos, por exemplo, os marroquinos querem conhecer o sistema de produção brasileiro, baseado em grandes empresas, como a Sadia e a Perdigão, e que utiliza vários pequenos produtores integrados.

Laranjas, azeitonas, ovelhas e cabras

Na outra ponta, interessa à Embrapa ter acesso às variedades de laranjas cultivadas no Marrocos. "O Marrocos tem a maior variedade de laranjas de mesa, para consumo in natura, e é o maior fornecedor da Europa. Já o Brasil é produtor de laranjas para suco e tem interesse em começar a produzir frutas para mesa, principalmente na região sul", disse o diretor da Embrapa.

Segundo ele, há possibilidade também de um convênio na área de oliveiras. "O Marrocos tem o maior banco de espécies de olivas e estudamos a possibilidade de adaptação de algumas variedades para plantio no Brasil, mais especificamente no Vale do Rio São Francisco, que fica no semi-árido, mas é irrigado", afirmou, acrescentando que existem possibilidades de troca de experiências também nas áreas de ovinocultura e caprinocultura.

Chianca afirmou que, já em setembro, pesquisadores da Embrapa que trabalham no laboratório da empresa em Motpellier, na França, que atuam nas áreas de "plantio direto" e biotecnologia, devem visitar técnicos do Marrocos. Em outubro, uma missão marroquina virá ao Brasil para conhecer a Embrapa Semi-Árido, em Petrolina (PE), e a Embrapa Cerrados, em Brasília. "Até o final do ano deveremos ter um projeto de cooperação técnica alinhavado", concluiu ele.

Além do setor agropecuário, foram tratadas na missão organizada pela ABC possibilidades de cooperação nas áreas de construção civil e águas. O idealizador da viagem foi o diretor-geral da ABC, Lauro Barbosa, que já foi embaixador do Brasil em Rabat, capital do Marrocos.

Balança

As relações comerciais e diplomáticas entre o Brasil e o Marrocos vêm aumentando. Em abril, o ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação do país africano, Mohamed Benaïssa, esteve no Brasil e se encontrou com o presidente Lula e outras autoridades brasileiras. Na ocasião começou a se falar na possibilidade de um acordo de livre comércio entre o Marrocos e o Mercosul.

No início de julho, durante a reunião de cúpula do bloco sul-americano, em Porto Iguaçu na Argentina, o Brasil e os demais membros do grupo (Argentina, Uruguai e Paraguai) aprovaram, por unanimidade, o início das negociações com o governo marroquino.

No primeiro semestre deste ano, o Marrocos ficou em quarto lugar entre os países árabes importadores de produtos do agronegócio brasileiro, com compras de US$ 152,5 milhões, atrás apenas da Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos.

No geral, o Marrocos importou o equivalente a US$ 187,8 milhões do Brasil nos primeiros seis meses de 2004, ou 95,5% a mais do que no mesmo período do ano passado. Os principais produtos da pauta foram trigo, açúcar, óleo de soja, soja em grãos e automóveis.

Do outro lado, o Brasil importou o equivalente a US$ 88,5 milhões do país árabe no primeiro semestre, ou 17,15% a mais do que no mesmo período de 2003. O agronegócio também teve responsabilidade por esse desempenho, uma vez que os principais produtos comprados pelo Brasil foram fertilizantes e matérias primas para a fabricação de fertilizantes. O Marrocos é um grande produtor mundial desses insumos.

Fonte: ANBA

Agências de turismo apontam aumento na procura por pacotes para os países árabes

Segundo profissionais consultados pela ANBA, após um período de decréscimo no fluxo de turistas para a região, os brasileiros começam a buscar novamente destinos como o Egito, a Tunísia, o Marrocos e o Líbano. As agências New Age e Flot, por exemplo, registraram um aumento de 100% nas vendas de passagens para o país dos faraós.

Marina Sarruf

São Paulo - Após um período de decréscimo no número de turistas brasileiros que embarcaram para os países árabes, representantes de companhias de turismo que oferecem pacotes para a região dizem que o fluxo de viajantes está aumentando. Na opinião dos operadores, já houve um crescimento significativo no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2003. Entre os principais destinos estão o Egito, Marrocos, Tunísia e Líbano.

Segundo informações do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), em todo o ano passado mais de 32 mil brasileiros foram para o Oriente Médio. O Marrocos foi o principal destino, seguido do Líbano e do Egito. O número de visitantes, porém, foi menor do que em 2002.

O Marrocos recebeu 6.335 brasileiros em 2002 e apenas 5.980 no ano passado. Para o Líbano, a queda no número de turistas brasileiros foi de 5,5% e para o Egito de 5,6%, sempre de acordo com informações a Embratur.

No entanto, as agências de viagem estão otimistas com o movimento este ano, embora ainda não existam estatísticas oficiais disponíveis sobre o primeiro semestre.

"Acho que os brasileiros perderam o medo de ir para esses países", disse Ingrid Davidovich, diretora de marketing da agência New Age, que oferece pacotes para países árabes. "Este ano melhorou muito. As pessoas não estão mais temerosas", disse Clara Kuraim, gerente de operações da agência Flot.

Segundo Ingrid, os brasileiros visitam esses países em busca da cultura, querem conhecer a história e as ruínas de civilizações antigas. Não vão em busca de praias, embora existam boas praias por lá.

Destinos

De acordo com informações de uma outra agência, a Queensberry, houve um aumento de 20% na procura por pacotes que incluem o Egito, Marrocos, Líbano, Síria e a Jordânia, em relação ao ano passado. Uma média de 96 turistas brasileiros por ano optam por esse roteiro, que inclui um cruzeiro pelo rio Nilo.

"O Egito se vende o ano inteiro, é um destino bem procurado", afirmou Ingrid. Na New Age, o número de clientes que foram para país aumentou em mais de 100% no primeiro semestre. De janeiro a julho do ano passado, 42 pessoas foram para o Egito pela agência. Já nos primeiros seis meses de 2004, o número subiu para 88. Houve também um aumento de 30% no número de clientes da New Age que foram para Tunísia e de 26% para o Marrocos.

A agência Flot também registrou um crescimento de 100% no número de clientes que foram para o Egito. Segundo informações da empresa, 31% do total de turistas que compraram seus pacotes no primeiro semestre foram para o país do norte da África. A Flot informou também que houve um aumento de 48% no número de turistas que foram para a região como um todo. Além disso, ocorreu um crescimento de 63% nos gatos desses passageiros, o que significa que os clientes compraram mais pacotes opcionais e permaneceram mais tempo nos paises.

Embora o número de brasileiros que foram para o Líbano tenha caído em 2003, em comparação com 2002, o diretor da Negresco Turismo, especializada em Oriente Médio, Najib Zaatar Makhlouf, acredita que o número deve voltar a crescer por causa do vôo entre São Paulo e Beirute, que será inaugurado no dia 17 de agosto, fruto de uma parceria entre a TAM e a libanesa Middle East Airlines.

"Com o início dos vôos da TAM vai ocorrer um aumento muito grande do número de brasileiros que vão para o Líbano", aposta Makhlouf. "O Líbano é a porta de entrada para os outros países", acrescentou.

Segundo o diretor da Negresco, 80% dos brasileiros que vão para o Líbano passam pelo menos um dia também na Síria. Ele acredita que pelo menos 9 mil brasileiros devem ir para o Líbano até o final de 2004, por causa do grande número de descendentes de libaneses que vivem no Brasil. Segundo a Embratur, no ano passado o fluxo para o país foi de 5.770 turistas.

Região que mais cresce

Se o aumento do fluxo de turistas brasileiros para os países árabes ainda não é uma realidade em termos de estatísticas oficiais, o mesmo não pode ser dito do movimento de visitantes que a região recebe de outros lugares do mundo.

Segundo informações da Organização Mundial do Turismo (OMT), o fluxo de turistas para o Oriente Médio cresceu 34% nos primeiros quatro meses de 2004, em comparação com o mesmo período de 2003. De acordo com a entidade, o número de visitantes na região deve aumentar a uma taxa de 7,1% ao ano até 2020.

Na avaliação da OMT, o turismo no Oriente Médio cresce mais rápido do que em qualquer outro lugar do mundo. O fluxo de visitantes estrangeiros para a região aumentou em 27% de 2001 a 2003 e chegou a 30,4 milhões de pessoas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o turismo nos Emirados Árabes Unidos cresceu 32% no ano de 2003, em relação ao ano anterior, no Líbano e no Bahrein houve um aumento de 14% e no Egito de 13%. Só em janeiro deste ano, o Marrocos recebeu 45% turistas a mais que o mesmo mês do ano passado, segundo o site árabe de notícias Menafn.com.

Entre os principais países árabes visitados por turistas em geral, também está a Síria, que registrou um aumento de 34% no movimento nos primeiros quatro meses deste ano, em relação ao mesmo período de 2003.

Fonte: ANBA