1.1.09

A conivência árabe no Massacre de Gaza


Por Alberto Cruz


Tradução de Mônica Muniz


Dezembro/2008 – Ceprid - Com a conivência, aquiescência e aprovação da ONU, da Europa, dos Estados Unidos e dos reacionários governos árabes, Israel envolveu-se numa campanha de extermínio, um holocausto contra os palestinos. Israel jamais quis a paz, somente a rendição. A visão israelense de qualquer processo de paz baseia-se numa lista de “não(s)”: não ao direito de retorno, não ao reconhecimento dos direitos históricos e políticos dos palestinos em Jerusalém, não ao desmonte dos assentamentos, não ao estado palestino soberano.

Com o objetivo final de impor sua própria visão de paz, Israel está inteiramente preparado para degradar a vida dos palestinos, limitando sua liberdade de movimento através de assassinatos e prisões, destruição de casas, universidades, mesquitas, hospitais e recursos agrícolas e pesqueiros. O cerco a Gaza é a prova clara do comportamento dos nazistas do século XXI: os sionistas. O massacre de Gaza é a prova clara dos novos SS: soldados sionistas. As alternativas para os palestinos são claras: abandonar o Hamas ou morrer, seja por meios militares, seja por meios “civis”, como o bloqueio e o cerco. Uma lição de democracia na mais pura forma pela “democracia do Oriente Médio” por excelência.

Para esta finalidade, Israel conta com seus melhores aliados que, apesar das aparências, não são os Estados Unidos e sim os reacionários regimes árabes. A Arábia Saudita e o Egito foram informados do ataque, conforme relatado pelo diário Al-Quds Al-Arabi, em sua edição de domingo, de 28/12. Uma hora antes de o ataque começar, a mídia saudita já acusava o Hamas pelo que acontecia, enquanto o jornal árabe Al-Sharq Al-Awsat, de Londres, publicava uma entrevista com Shimon Perez, dizendo que Israel não iria atacar Gaza e que os israelenses estavam “prontos para a paz”. Obviamente, uma entrevista que tem que ser encarada como uma manobra sionista com para permitir que o massacre fosse o mais completo possível, uma medida claramente explicada pelo repórter do jornal israelense Há’aretz, em sua edição daquele domingo.

Durante dias, os jornais israelenses relataram o “sinal verde” dado pelos regimes árabes para a eliminação dos principais líderes do Hamas. Assim como fizeram durante a Guerra do Líbano, no verão de 2006, os reacionários regimes árabes sentiram um arrepio gelado percorrer a espinha quando movimentos político-militares, como o Hizbollah, derrotaram o onipotente exército sionista, ou o Hamas, que venceu as eleições democráticas e resiste a um cerco que dura mais de ano e meio. Os reacionários regimes árabes podem aguentar uma derrota (como a que o Hizbollah impôs a eles, mas não podem se esquecer que graças àquela derrota o Plano de Paz aprovado por uma ineficiente e inoperante Liga Árabe implodiu em 2002), mas não a duas. E o Hamas não é o Hizbollah. É muito mais fraco e foi esta realidade que permitiu e estimulou o massacre. O caso mais óbvio é o do Egito, que reforçou o fechamento de Rafah, apenas uma semana antes do massacre sionista.

O secretário geral do Hizbollah, Hassan Nasrallah, está certo quando acusa esses regimes de colaboração e de agir no sentido de derrotar o “último vislumbre de resistência” ao projeto neocolonial apoiado pelo imperialismo no Oriente Médio. Ele sabe do que está falando porque isto já foi feito a eles em 2006. E, portanto, ninguém esquece que a arrogância israelense não tem limites e que a ONU permitiu que o regime sionista fizesse o que gosta, no domingo 28: enquanto o massacre sobre Gaza estava em curso, cinco aviões de guerra sionistas mais uma vez violaram o espaço aéreo libanês, voando sobre Nabatia, Marjaun, Jiam e Arqoub. O que fizeram os soldados da ONU? Como de costume, nada. Afinal, eles estão lá para proteger os israelenses, não os libaneses.


Os reacionários regimes árabes estão lá para se protegerem, não aos palestinos. Egito e Arábia Saudita conseguiram adiar para 31 de dezembro a “reunião de emergência” da ineficiente e inoperante Liga Árabe. Da mesma forma que fizeram no Líbano, eles preferiram dar tempo para que Israel acabasse ou enfraquecesse o Hamas, Para eles, aquela organização político-militar é o problema, não o regime sionista.'

O Egito jamais se esqueceu de que o Hamas se recusou a antecipar as eleições, conforme sugerido por Mubarak, com o objetivo de fortalecer Abbas. E, muito menos, aceitou que o Hamas se retirasse das conversações de “diálogo nacional”, até que o regime egípcio abrisse a fronteira com Rafah. O Egito não podia aceitar isto e este foi o motivo da aprovação realizado por Israel.

Porém, o mais miserável de todos os lideres árabes é Mahmoud Abbas, que se intitula “Presidente da Autoridade Palestina”, ao mesmo tempo em que acusa o Hamas de ser o responsável pelo massacre por ter-se recusado a ceder aos desígnios sionistas e ocidentais. Aproveitando-se da matança, ele já disse que assumirá a administração de Gaza se o Hamas for derrotado. Estamos lidando com um regime na Cisjordânia ao estilo de Vichy, tendo Abbas como seu general Pétain, servindo a Israel nazista do século XXI.

Lançar tais indivíduos no lixo da história é uma obrigação. Derrotar os regimes árabes reacionários é um direito. A solidariedade com os movimentos populares árabes e, principalmente com os sindicalistas (1) egípcios tem que ser prioridade para o movimento antiimperialista mundial.

E o mesmo pode ser dito a respeito dos governos europeus e dos Estados Unidos. A chama grega, como a olímpica, deve espalhar-se na causa pela paz e justiça social. O capitalismo oferece apenas um tipo de paz verdadeiramente democrática, a do cemitério

Notas:

(1) Hossam El-Hamalawy: "La resistencia en Egipto" http://www.nodo50.org/ceprid/spip.php?article265

Alberto Cruz é jornalista, analista político e escritor, especializado em relações internacionais.
Centro de Estudios Políticos para las Relaciones Internacionales y el Desarrollo (www.nodo50.org/ceprid)


Original em inglês: Arab Connivance in the Gaza Massacre