Raramente posto aqui minhas opiniões pessoais, limitando-me a postar notícias retiradas de jornais, mas lendo os comentários de algumas pessoas sobre a proibição do uso do véu notei que a maioria menciona os imigrantes que vão para a Europa. Alegam que se queriam manter todos os seus costumes de origem deveriam "ter ficado em seus países".
Concordo em parte com esse ponto de vista. Se alguém acha que o país para onde imigrou é tão ruim a ponto de não querer pertencer à sua comunidade, não deveria ter migrado para ele. Já vi muito esse tipo de comportamento em imigrantes árabes que estão no Brasil e sempre me pergunto porque vieram para cá, em primeiro lugar. Mas o véu em si não impede integração alguma. É a própria postura da pessoa que a impede de se integrar a uma determinada comunidade.
Mas o que mais chama a minha atenção é que parece que as pessoas se esquecem que existem muitas muçulmanas convertidas, como é o meu caso, que usam o véu. O que fazer com elas? Elas não tem para "onde voltar" e não vieram de lugar nenhum. Nasceram e viveram em seu país de origem. O uso do véu é uma obrigação religiosa e não está delimitado por questões geográficas, mas o desconhecimento, muitas vezes incentivado pela mídia, gera esse tipo de desinformação.
O que fazer com uma francesa, alemã, belga, brasileira, etc., convertida que decidiu cobrir o rosto? Ela não é uma "estrangeira" e não abriu mão em momento algum de sua nacionalidade ao se converter ao Islã. Os "defensores da liberdade da mulher" estão negando a essas mulheres o direito de praticarem a religião que escolheram espontaneamente e cerceando seu direito de ir e vir para supostamente libertá-las. Não existe hipocrisia maior. Aceito sim, o argumento da segurança, mas existem meios de garantir a segurança sem precisar colocar uma mulher na prisão por estar vestida demais.
Outro argumento que vejo muito seria de que se uma ocidental vai a um país islâmico, ela tem que se cobrir. Primeiro, não é totalmente verdade. Com exceção da Arábia Saudita e Irã, nenhum outro país impede ocidentais de andarem descobertas nas ruas. No Egito e outros países da região existem praias onde as mulheres praticam topless. Acho um desrespeito da parte delas com a cultura local, mas elas fazem. Não é em qualquer praia, geralmente são praias localizadas nas áreas turísticas e, sabendo que lá encontrarão mulheres praticamente nuas, muitos egípcios deixam de frequentar essas praias. Ou seja, se privam em seu próprio país de frequentar um local de lazer. Então, pegar 2 ou 3 países como exemplo absoluto é desinformação ou má fé. E mesmo que esses 2 países proíbam mulheres de andarem descobertas, a situação não é a mesma.
Tomando o Brasil como referência, um país onde as mulheres vão à praia praticamente nuas, ainda assim existem limites aceitáveis para a exposição do corpo. Uma pessoa pode ser presa se decidir tirar em público aquele naquinho de pano que lhe cobre a genitália. Então, mesmo um país em que a exposição do corpo é a norma, tem direito de estabelecer limites de acordo com o que é aceitável para a sua cultura.
Não uso o véu cobrindo o rosto, mas existem convertidas que usam. Não o considero obrigatório e, particularmente, acho que decidir cobrir o rosto só dificulta a situação das muçulmanas que querem obedecer esse mandamento religioso, gerando o que acontece agora na Europa: uma aversão ao uso do hijab como um todo. Cobrir o cabelo no Brasil já requer um alto grau de determinação e costuma criar barreiras no trabalho, barreiras que precisam ser vencidas com muita criatividade.
Não ficaria em um emprego que me impedisse de usar o hijab e, por isso, desde que me converti não trabalho para ninguém. Sou autônoma. Acho que a justificativa do trabalho para não usar o hijab é meio fraca, mas cada uma sabe de si. O ponto é que as muçulmanas parecem ter ficado entre dois extremos: não usar o hijab ou cobrir tudo, inclusive o rosto.
O meio termo, ainda mais se ele é a opinião predominante do ponto de vista religioso, é sempre a melhor alternativa, mas adotar o meio termo também vale para os supostos "defensores da liberdade e dignidade da mulher."