4.11.07

Uma outra imagem do Sudão

Christian Trombetta, suíço radicado no Brasil, passou quase três anos no país africano trabalhando na administração de acampamentos da ONU e outras organizações. Durante este período ele fotografou o cotidiano da população local, registros que mostram orgulho e esperança.




São Paulo – Registrar imagens pouco conhecidas do Sudão. Este foi o hobby de Christian Trombetta, suíço radicado no Brasil, durante o período em que passou no país trabalhando na montagem, administração e logística de acampamentos da Organização das Nações Unidas (ONU), entidades de ajuda humanitária e forças de paz. "Minha idéia era retratar um outro lado do país, verdadeiro, onde independentemente da guerra existem sorrisos e esperança nos olhos das pessoas", disse ele ontem (25) à ANBA.

Trombetta clicou crianças brincando, mulheres vestidas com roupas coloridas, homens em trajes tradicionais, cenas do cotidiano da população local. "Apesar de tudo há esperança, orgulho e uma certa beleza", disse. "A pobreza a gente já vê na televisão e nos jornais, mas ninguém mostra o lado bom do país", acrescentou.

Neste sentido, ele fez uma comparação com o Brasil. "Se você mostrar só o filme 'Tropa de Elite' lá fora, todo mundo vai pensar que o Brasil todo é assim", disse Trombetta, referindo-se ao filme recém lançado que mostra ações violentas do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia contra traficantes no Rio de Janeiro.

Antes de ir para o país africano, Trombetta trabalhava com publicidade, marketing, organização e logística de eventos. Ele sempre atuou na área, mesmo sendo formado em direito. Veio para o Brasil em 1991, ao se casar com uma brasileira.

Durante um evento na Suíça, Trombetta foi convidado pelo Afex Group, empresa de capital norte-americano sediada no Quênia, a trabalhar no gerenciamento de acampamentos no Sul do Sudão. A Afex oferece serviços de suporte e logística para entidades e companhias em lugares remotos.

Trombetta esteve na região de 2005 até dezembro do ano passado, trabalhando em acampamentos nas localidades de Juba, Rumbek e redondezas. Foi aí que surgiu a idéia de começar a fotografar. "Gosto de arte, de pintar, mas no lugar onde eu estava não havia telas nem espaço. Então eu comecei a fazer fotos, durante o trabalho mesmo. Quando eu ia para alguma vila sempre levava a máquina", disse. "A realidade lá era como um filme e eu queria gravar as imagens desse filme."

Vida simples

Após décadas de guerra civil, um acordo de paz foi assinado em dezembro de 2004 entre o governo sudanês e rebeldes do Sul. Apesar do acordo ser considerado frágil, ele trouxe relativa estabilidade à região. Segundo Trombetta, gradativamente a atividade econômica tem retornado. "A população tem grandes esperanças no crescimento econômico, sobretudo em Juba", afirmou.

Lá estão instalados os órgãos da ONU e organizações não governamentais, o que ajudou a impulsionar o comércio local, além de criar empregos. Segundo Trombetta, empresas chinesas estão trabalhando na reconstrução de estradas, e outras companhias, especialmente dos Emirados Árabes Unidos, atuam na importação de bens de consumo e alimentos.

Além disso, as instituições de auxílio estão capacitando a população no uso racional da água e na agricultura. "Em Juba eles já plantam verduras, batatas, tomates", disse o fotógrafo amador. Parte dos habitantes atua no comércio, outros em pequenos serviços, como conserto de bicicletas, ou nas pesca durante a estação de chuvas, mas muitos ainda sobrevivem da ajuda de órgãos como o Programa Mundial de Alimentos da ONU. "É uma vida extremamente simples, eles vivem em cabanas ou em campos de refugiados."

No entanto, a principal atividade, segundo Trombetta, é a criação de gado. Ter bois é considerado um símbolo de status, e famílias que têm muitas reses são consideradas ricas. Os animais só são abatidos em ocasiões especiais, como casamentos e funerais. Na dieta do dia-a-dia estão mais presentes o leite de cabra e a carne de cabrito.

Trombetta afirmou que sempre foi tratado com muito carinho pela população local, pois sempre os tratou com respeito. Segundo ele, os dinka, uma etnia local, são muito orgulhosos e gostam de quem fala com a cabeça erguida. "É uma tradição tribal", afirmou.

Contraste

Para mostrar ao seu filho, hoje com 13 anos, e amigos a realidade do seu local de trabalho, Trombetta começou a postar suas fotos num blog e elas começaram a se espalhar pela internet. "Gente do mundo inteiro passou e entrar em contato comigo", disse.

Em janeiro deste ano, ele se mudou para Darfur, região do Sudão ainda em conflito, para trabalhar em um acampamento das forças de paz da União Africana, desta vez contratado pela PAE Government Services, que pertence à norte-americana Lockheed Martin. Lá a situação é diferente, a mobilidade era pouca e as saídas do campo eram realizadas somente com escolta armada. Mesmo assim Trombetta continuou a fotografar.

"Foi um contraste. Antes eu trabalhava em eventos de marcas famosas, como Louis Vuitton e Hugo Boss, o extremo do luxo europeu, e fui viver no meio de pessoas saídas de uma guerra", disse. Para ele, no entanto, foi a oportunidade de ver uma região que poucos conhecem. Lá, além das fotos, ele ajudou jovens a aprender informática. "Há muita busca por escolaridade", declarou.

Trombetta retornou ao Brasil em agosto, para ficar ao lado do filho. A temporada no Sudão era intercalada por quatro meses de trabalho contínuo com três semanas de férias. "Eu vi o que tinha que ver", disse. Agora ele quer mostrar o que viu para outros, pois pretende montar uma exposição de suas fotos e está um busca de um local e patrocinadores.

Contatos


Christian Trombetta
Tel: +55 (11) 3881-9377
E-mail: christian.trombetta@ticino.com
Site de fotos: www.picturesofsouthsudan.blog.kataweb.it


Fonte: ANBA


Conferência alerta para nova forma de preconceito contra muçulmanos

Córdoba (Espanha), 9 out (EFE) - Os participantes da Conferência sobre Intolerância e Discriminação contra os Muçulmanos, que começou hoje em Córdoba, no sul da Espanha, alertaram para a nova forma de preconceito representado pela "islamofobia" e pediram que a comunidade internacional adote medidas para prevenir este fenômeno.

Esta é a mensagem emitida pelo ministro de Assuntos Exteriores espanhol, Miguel Ángel Moratinos, na inauguração do fórum internacional, promovido pela Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), que reúne na cidade espanhola representantes de mais de 60 países.

O ministro espanhol e atual presidente da OSCE ressaltou a necessidade de evitar o risco de que um novo fenômeno de xenofobia "perturbe as relações sociais e lese os direitos humanos e a segurança" dos muçulmanos.

Para ele, a islamofobia "é uma realidade que ameaça a convivência nas sociedades", e é um problema contra o qual é preciso "lutar e dispor de medidas de prevenção e alerta".

Moratinos admitiu que a ação do terrorismo internacional ajudou a alimentar este fenômeno, mas considerou "irresponsável" estender sua rejeição a todos os muçulmanos.

O secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, qualificou Córdoba de "um dos lugares mais importantes para a tolerância, praticada (no local) há dez séculos". Ele se referia ao fato de a cidade espanhola ter ficado sob domínio muçulmano entre os séculos VIII e XI.

Moussa destacou ainda o papel da Espanha na promoção do diálogo entre as culturas e da Aliança de Civilizações.

Em seu pronunciamento na conferência, o secretário-geral da Liga Árabe afirmou que o conflito entre o Islã e o Ocidente "carrega dentro de si a semente de um confronto a longo prazo", principalmente no Oriente Médio.

A culpa deste choque, acrescentou, é dos "extremismos" das duas civilizações e daqueles que defendem comportamentos "hegemônicos" e incentivam o que definiu como "anarquia criativa".

Para o dirigente árabe, a intolerância ao islamismo não tem origem nos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, e sim no fim da Guerra Fria.

Moussa censurou atos como a charge de Maomé e os que criticam a forma de viver dos muçulmanos que moram na Europa, e lembrou que aos ocidentais que viviam em países islâmicos há um século "ninguém perguntava por que se vestiam de uma maneira ou de outra".

"O Islã não é fácil de vencer; é fácil de conviver com ele", disse o responsável da Liga Árabe, organização que reúne 22 países.

Outro dos oradores na conferência, o alto representante da ONU para a Aliança de Civilizações, Jorge Sampaio, afirmou que iniciativas como esta reunião organizada pela OSCE podem ajudar na "compreensão" entre culturas e religiões e a superar a "ansiedade social" contra os muçulmanos.

Sampaio insistiu em que "não há lugar para soluções unilaterais ou isoladas" e, por isso, recomendou unir esforços entre organismos como a ONU e a OSCE.

O presidente da região de Andaluzia, Manuel Chaves, também discursou na conferência e ressaltou a importância de realizar encontros deste tipo.

Para ele, a visão da religião islâmica por parte do Ocidente "está freqüentemente carregada de um conjunto de estereótipos, percepções negativas e preconceitos".

Durante dois dias, representantes dos 56 Estados-membros da OSCE - entre países de Europa, Ásia Central, Estados Unidos e Canadá - e de nações associadas, como Marrocos, Argélia, Egito, Israel e Afeganistão, estudarão a intolerância contra os muçulmanos e recomendarão medidas para reduzir seus efeitos.

Os debates serão divididos em cinco mesas-redondas nas quais diversos especialistas discutirão o papel da imprensa e a importância da educação para superar os preconceitos contra os muçulmanos.

Fonte: UOL Notícias


23.10.07

Mutilação de clitóris atinge até 140 milhões de mulheres no mundo

Paris, 22 out (EFE).- Entre 100 e 140 milhões de mulheres sofreram ablação de clitóris no mundo todo, especialmente na África Subsaariana, mas também em outras regiões onde a prática é tradicional, e inclusive nos países da Europa e América do Norte, onde o total chega a 6,5 milhões.


Estas são algumas das principais conclusões de um relatório divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estudos Demográficos da França (Ined). O relatório rompe com a idéia de que a mutilação genital feminina é uma prática vinculada à religião muçulmana.

"O principal fator é o étnico, e não o religioso", ressaltam as autoras, Armelle Andro e Marie Lesclingand. A prática, observam, tem a ver com os ritos de iniciação e de entrada na idade adulta de alguns povos.

Andro e Lesclingand explicam que a ablação de clitóris era praticada na África muito antes da chegada das religiões monoteístas. A incidência geográfica corrobora que "não há relação entre a difusão do Islã num país e a proporção de mulheres afetadas pela mutilação", concluem.

Como exemplo, elas apontam o fato de que na Etiópia três quartos das mulheres sofreram a operação, mas os muçulmanos não passam de um terço da população. Já no Níger, só 2% foram mutiladas, quando o país é quase inteiramente muçulmano. Nos países do norte da África, onde a população é também quase 100% muçulmana, a cisão não existe.

Um caso interessante que confirma a tese das especialistas é o do Senegal, também majoritariamente muçulmano. A ablação não é praticada na população mais numerosa, a wolof, mas é relativamente freqüente em grupos minoritários, como os peul, os toulouleur, os soninké e os malinké.

Nos outros continentes, os principais focos nos quais a mutilação feminina é uma prática tradicional são certas partes do Oriente Médio e do sudeste asiático. Os índices mais altos são em países como Iêmen, Indonésia e Malásia.

A imigração levou a ablação a países europeus, como a França.

Segundo as estimativas do Ined, de 42 mil a 61 mil mulheres francesas sofreram a extirpação do clitóris.

As autoras do relatório constataram que a prática está retrocedendo na maior parte dos países. A tendência, avaliam, tem muito a ver com "o grau de mobilização dos Estados" e as recomendações internacionais explícitas contra a ablação nos anos 90. Elas destacam o protocolo assinado em 2003 por todos os países-membros da União Africana, que condena oficialmente e proíbe as mutilações sexuais.

Fonte: Yahoo Brasil


11.10.07

Primeiro astronauta muçulmano embarca à Estação Espacial Internacional, que terá mulher no comando


KUALA LUMPUR - O primeiro astronauta malaio e de religião muçulmana da História, Sheik Muszaphar, embarcou na manhã desta quarta-feira na nave Soyuz TMA-11, juntamente com o russo Yuri Malenchenko e a americana Peggy Whitson, rumo à Estação Espacial Internacional, na qual deverá acoplar no início da sexta-feira. O lançamento foi feito do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Outra novidade da missão é que Whitson será a primeira mulher a comandar a estação.

- O lançamento transcorreu com normalidade - disse um porta-voz do Centro de Controle de Vôos Espaciais da Rússia.

Após se separar do foguete lançador, a nave russa se encontra em órbita.

- É um pequeno passo para mim, mas um grande passo para o povo malaio - disse Muszaphar, antes de embarcar, citando a célebre frase do astronauta americano Neil Amstrong, quando pisou na Lua pela primeira vez, em 1969.

O "angkasawan" (astronauta em malaio) passará oito dos dez dias da missão na estação. Nela, ele realizará experiências elaboradas por cientistas malaios, como um estudo sobre os efeitos da microgravidade e o uso de proteínas em uma vacina contra o HIV.

O cirurgião ortopedista de 35 anos foi escolhido para a missão há poucas horas, depois de vários meses de treinamento em bases russas e americanas ao lado de outro candidato malaio, o capitão do Exército Faiz Khaled. Muszaphar disse que, mesmo no espaço, vai rezar cinco vezes por dia, voltado para Meca, como manda a religião muçulmana.

A participação da Malásia na missão foi acertada durante uma negociação para a venda de aviões russos ao governo malaio.


Fonte: O Globo online

8.10.07

Estudante de Bangladesh cria robô inteligente com sucata

Aluno da graduação criou robô com peças recolhidas em lojas de eletrônicos e oficinas. Ele espera vender a criação, que atende a comandos sonoros, por menos de US$ 1 mil.

Um estudante da Universidade Islâmica Internacional em Chittagong, Bangladesh, está desenvolvendo um robô capaz de pegar objetos, mapear ambientes e realizar outras tarefa simples com apenas uma fração do custo de outros humanóides.


Feroz Ahmed Siddiky afirma que seu “IRobo” responde a comandos de voz, tem inteligência espacial e é barato por ser feito de sucata recolhida em lojas de eletrônicos e oficinas mecânicas.

“Além disso, esse robô irá atender a diferentes comandos verbais, realizando tarefas como mudar objetos de lugar, limpar superfícies e manter-se em guarda”, afirmou Siddiky. “Ele também poderá ser utilizado em alguns trabalhos arriscados, como em minas de carvão, onde os trabalhadores geralmente sofrem muitos acidentes”.

O estudante vem trabalhando no robô há dois anos e diz que precisa de mais um ano de trabalho de engenharia antes que ele esteja completo. Segundo Siddiky, ele já tem discutido sobre produção comercial do robô com uma empresa de softwares australiana. “Espero que as pessoas possam comprá-lo por menos de US$ 1 mil”, disse.


Fonte: Globo.com

1.10.07

Fundamentalismo Religioso

Abaixo estão trechos do artigo O DIÁLOGO EM TEMPOS DE FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO do teólogo Faustino Teixeira. O artigo inteiro, com suas notas de referências, fornece reflexões e informações muito interessantes e oportunas, e os trechos apresentados aqui visam somente a divulgação do artigo e não substituem a leitura do artigo completo:

[...O fundamentalismo é uma realidade recorrente nas religiões nos tempos modernos, surgindo sempre como uma reação aos problemas da modernidade. Com respeito ao contexto religioso, este termo foi aplicado pela primeira vez por volta da passagem do século XIX para o século XX, referindo-se a um movimento teológico de origem protestante. Este movimento nasce nos Estados Unidos como reação ao modernismo e liberalismo teológico, e assume como bandeira as idéias de inerrância bíblica, de escatologia milenista e anti-ecumenismo...

...Sobretudo após os episódios violentos de 11 de setembro de 2001, a questão do fundamentalismo foi muito enfatizada pelos diversos meios de comunicação. Há uma tendência na mídia ocidental, fortalecida após esta data, de identificar e/ou reduzir o fenômeno do fundamentalismo à questão islâmica. Trata-se na realidade de um grande equívoco. Na verdade, a tendência fundamentalista irá marcar presença no Islã bem mais tarde do que a verificada nas outras duas grandes tradições monoteístas, ou seja, o judaísmo e o cristianismo. Esta tendência irá ocorrer no Islã sobretudo por volta dos anos de 1960 e 1970, em reação ao enraizamento da cultura moderna em solo muçulmano...

...Não há como desconhecer a presença do fenômeno fundamentalista em curso no Islã. Mas seria incorreto e equivocado concluir que todo o Islã é fundamentalista, como afirmou ultimamente o historiador inglês Paul Johson. Na verdade, “a atual explosão integralista, nas suas várias formas e facetas, significa certamente um fenômeno profundo e preocupante mas claramente minoritário (e se espera não duradouro) da secular tensão entre tradição e modernidade, entre sabedoria divina e sabedoria humana que caracteriza o Islã desde suas origens". As formas mais “explosivas” e contundentes dos movimentos islamitas acabam prevalecendo e abafando a realidade mais ampla e complexa do fenômeno do Islã. A exigência de uma relativização não invalida a importância de um trabalho crítico e científico que deve ser feito em favor da compreensão da tradição islâmica para além das transgressões que ela sofreu ao longo da história. Não se pode, entretanto deixar de acentuar a difícil e dolorosa situação que vem provocando a insurgência e afirmação fundamentalista no Islã. Embora seja difícil diagnosticar com precisão as causas deste fundamentalismo, não há como negar sua realidade de “efeito objetivo de fatores cuja eliminação requer nada menos que uma correção de rumos na estrutura de nossa modernidade”.]


Leia o artigo completo aqui

7.9.07

Comida Muçulmana Invade Nova York

Assista a reportagem do Jornal Hoje, que informa que a comida dos muçulmanos, conhecida como halal (*) , está agradando os nova-iorquinos e desbancando o famoso cachorro quente.

Link para o vídeo


(*) halal quer dizer "lícita", em árabe.



3.7.07

Programa brasileiro oferece bolsas no Egito

Por meio de uma parceria entre as unidades brasileira e egípcia da organização não governamental AFS Intercultural Programs é possível para alunos de escolas públicas fazer intercâmbio de um ano no país árabe. O catarinense Bruno Bortoli já participou e tem vontade de voltar ao Egito.

Marina Sarruf
marina.sarruf@anba.com.br

São Paulo – Os alunos brasileiros de escolas públicas municipais, estaduais ou federais também podem ter a oportunidade de fazer intercâmbio no exterior, inclusive num país árabe, como o Egito. Isso é possível devido à parceria entre as unidades brasileira e egípcia da organização internacional não governamental AFS Intercultural Programs, presente em mais de 50 países, que oferece bolsas de estudo para alunos carentes.

A AFS Intercultura Brasil, unidade brasileira, tem como objetivo promover o aprendizado intercultural por meio de intercâmbios entre os povos, principalmente para jovens que desejam estudar ou trabalhar no exterior. Este ano foram selecionados dois brasileiros, um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro, para estudar no Cairo, capital do Egito, no ano que vem. Desde 2004, quando foi firmada a parceria entre as duas unidades, dois estudantes já ganharam bolsa de estudo.

De acordo com a assistente de marketing da AFS Intercultura Brasil, Luiza Fischer, a bolsa inclui um ano de estudo, passagens aéreas e seguro saúde. "Os alunos selecionados ficam durante um ano morando na casa de uma família, que também é voluntária, não recebe nada por acolher o estudante", afirmou.

Segundo Luiza, para concorrer às bolsas de estudo, os alunos devem ter entre 15 e 17 anos, terem boas notas e estarem regularmente matriculados na escola. "Além disso, o aluno tem que ser engajado socialmente e levar a causa da paz, que é um dos nossos objetivos também", disse. Os estudantes interessados passam por um processo seletivo feito por voluntários da AFS Brasil.

O estudante de Florianópolis, Santa Catarina, Bruno Bortoli, foi o segundo bolsista a participar do intercâmbio para o Egito. Ele foi para o Cairo em agosto de 2005 e voltou em julho do ano passado. "Escolhi o Egito porque era o país mais diferente e acho que quanto mais diferente é o país mais a gente aprende", disse ele que concluiu o último ano do Ensino Médio numa escola americana do Cairo.

De acordo com Bortoli, ele sempre teve curiosidade e vontade de conhecer o Egito. "Sempre tive interesse pela cultura árabe, pelos muçulmanos e pela própria história egípcia". No início, Bortoli estranhou, segundo ele tudo era muito diferente, desde a comida até os costumes. "Fiquei numa casa de uma família muçulmana. Tinha o pai, a mãe e cinco filhos, era uma família grande. Lá eles comiam muito, dançavam e cantavam bastante. Eu me apaixonei.”

A experiência para Bortoli valeu a pena. Ele disse que para se comunicar melhor com a família e os colegas aprendeu até a língua árabe. "Consigo entender mais do que falar, mas sei me virar", disse. "Penso muito em voltar para lá", completou. Atualmente, Bortoli, que está com 19 anos, está cursando duas faculdades, de Geografia, na Universidade de Santa Catarina (UDESC), e de Matemática, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Outros programas

A AFS do Brasil também oferece programas regulares de intercâmbio, que são pagos, mas o aluno recebe todo o apoio da organização no país escolhido. Inclusive, existe atualmente um estudante no Egito fazendo intercâmbio pelo programa regular e para o ano que vem, além dos dois bolsistas, um outro aluno também escolheu o país árabe para fazer o intercâmbio.

De acordo com Luiza, também existe a possibilidade de trazer estudantes egípcios para o Brasil, mas até o momento ainda não houve interessados. Pelos programas da AFS do Brasil, cerca de 500 brasileiros vão para o exterior por ano, principalmente para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Alemanha. Já no caminho inverso o número é bem menor, cerca de 200 estrangeiros vêm para o Brasil pelo programa da AFS. Os intercambistas, na maioria, são da Alemanha.

Além dos programas de intercâmbio para estudantes, a AFS do Brasil oferece programas de estágio não remunerado, de trabalho voluntário, para professores e programa de intercâmbio intensivo Brasil-Alemanha.

Contato

AFS Intercultura Brasil
Tel: +55 (21) 3724-4464
Fax: (21) 3724-4400
Site: www.afs.org.br

Fonte: ANBA

26.6.07

Muçulmanos brasileiros sofrem de preconceito importado

Por Isabelle Somma

Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha e divulgada pela Folha de S. Paulo em 6 de maio passado demonstra que no Brasil existe de fato preconceito contra muçulmanos. Para 49% dos entrevistados, a frase “os muçulmanos defendem o terrorismo” é verdadeira. A pesquisa entrevistou 5.700 pessoas entre os dias 19 e 20 de março de 2007, em 236 municípios de 25 unidades da federação. A margem de erro é de 2% para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.

Esse fato não é novidade para a comunidade. Após 11 de setembro de 2001, até mesmo quem fazia curso de língua árabe na Universidade de São Paulo passou a ser visto com olhar de espanto pelos colegas. Para as mulheres muçulmanas, o preconceito é ainda mais evidente. Não é raro ver pessoas na rua apontando para uma passante que veste o hijab. Também não é raro ouvir pessoas comentando sobre a “burca” de uma muçulmana. Se nem mesmo o nome da vestimenta é conhecido, imagine o resto.

O preconceito é algo que homossexuais e negros sofrem diariamente neste país que se gaba pela tolerância. Mas, de todos os preconceitos, me parece que o contra os muçulmanos é o único “importado”. Explico: não temos uma história própria de intolerância contra a comunidade muçulmana. Ao contrário. Em lugares como Foz do Iguaçu, no Paraná, e São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, onde se encontram grandes contingentes de fiéis, jamais se registrou algum problema que pudesse gerar conflitos.

E não é apenas a maioria da comunidade muçulmana brasileira que vive em paz. Isso acontece no mundo inteiro. Outra pesquisa recente, realizada do Marrocos à Indonésia pelo Instituto Gallup, “The Gallup World Poll of Muslims from North Africa to Southeast Asia, Listening to a Billion Muslims”, demonstra que a maioria dos muçulmanos admira o Ocidente, em particular a tecnologia, o sistema democrático e a liberdade de expressão. A mesma pesquisa indicou que dos entrevistados, somente 7% eram favoráveis aos ataques que ocorreram em 11 de setembro de 2001.

Então, de onde vem essa desconfiança? Por um lado, acredito que a preferência de jornais, revistas e canais de televisão brasileiros em publicar assuntos associados a atos de violência é maior do que aos relativos a cultura. A cobertura é feita com base em reportagens enviadas de agências de notícias, jornais e revistas norte-americanos e europeus. Importamos a idéia de que há uma guerra de civilizações, em que muçulmanos estão querendo tomar o mundo e implantar uma visão radical de sua própria religião.

O que esquecemos, porém, é que esses meios de comunicação internacionais se coadunam com a velha visão de potências hegemônicas. Trazem a visão de que devemos dominar os bárbaros, sejam eles quem for, mas principalmente aqueles que vivem em cima do petróleo. Essas mesmas potências pretendem continuar hegemônicas e, por isso, tudo que as ameaça está em sua mira. E os meios de comunicação acompanham, sem ao menos duvidar das intenções de seus governos. O apoio em massa da mídia norte-americana à Guerra do Iraque é o exemplo mais notório.

O que fazer então? Talvez exercermos o direito que qualquer cidadão tem de duvidar e, principalmente, exigir coberturas mais justas e menos dependentes de visões importadas dos veículos de comunicação brasileiros. Independência de opinião nos faria muito bem.

Isabelle Somma é jornalista.

Fonte: Correio do Icarabe


21.6.07

Impressões do Norte da África


Viajar por Marrocos, Tunísia e Egito serve para desmistificar. A cultura é diferente, mas o povo é hospitaleiro. A barreira do idioma não é tão grande assim e o mercado é mais diversificado do que se imagina. Estas são algumas das impressões de um repórter que passou 11 dias na região.



Museu do Bardo, na Tunísia, amostra da riqueza histórica do Norte da África


Alexandre Rocha


alexandre.rocha@anba.com.br

São Paulo – É surpreendente! Esta foi a expressão utilizada por vários integrantes da missão empresarial brasileira que passou pelo Marrocos, Tunísia e Egito, entre o final de maio e o início de junho, organizada pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e pela Agência de Promoção das Exportações e Investimentos do Brasil (Apex). E a surpresa foi positiva, tanto do ponto de vista cultural, como de mercado.

Tanto no Egito, como na Tunísia e no Marrocos, o povo ouve muita música, seja nos restaurantes, cafés, no táxi, no supermercado. Geralmente música árabe. Fazem sucesso jovens cantoras e cantores que mesclam elementos folclóricos com ritmos pop. Toca muita música brasileira também, desde Tom Jobim, passando por Gilberto Gil e até a o Carrapicho: "Bate forte o tambor, eu quero é tic, tic, tic, tic, tac", cantava um trio no bar de nosso hotel no Cairo.

A presença brasileira pode ser vista também de outras maneiras, como na propaganda de uma churrascaria em nosso hotel no Marrocos, no anúncio de café no Aeroporto de Túnis, nas duas filiais do restaurante paulista Mori Sushi no Cairo e até numa velha Brasília que passou rodando na nossa frente nas ruas da capital egípcia.

Viajar por Marrocos, Tunísia e Egito serve também para desmistificar um pouco a questão do papel da mulher no mundo árabe. Nos três países muitas mulheres trabalham e ocupam cargos importantes nos setores público e privado.


Nota: Essa é uma versão editada da reportagem. Para lê-la na íntegra clique aqui.

Fonte: ANBA



20.6.07

Argelino mostra arte islâmica em Maricá


O desenhista e pintor Yevid Zedenny Al Zarhak Al Koef nasceu na Argélia, mas vive na cidade de Maricá, interior do Rio de Janeiro. No mês de julho ele fará uma exposição na sede do Grupo de Artistas de Maricá, onde vai mostrar quadros com paisagens de países muçulmanos. Algumas pinturas receberam aplicação de bordados ponto cruz feitos pela espanhola Haddad Medina Garcia.

Isaura Daniel
isaura.daniel@anba.com.br

São Paulo – No mês de julho, a sede do Grupo de Artistas de Maricá (GAM), que fica na cidade de Maricá, no estado do Rio de Janeiro, vai receber uma exposição islâmica de artes. A mostra ocorrerá entre os dias 06 e 29 de julho e vai apresentar as pinturas do argelino Yevid Zedenny Al Zarhak Al Koef e da bordadeira espanhola Haddad Medina Garcia. Al Koef, que nasceu na Argélia mas mora na cidade fluminense, produz quadros com pintura sobre papel e molduras de materiais recicláveis. Haddad, que é casada com o argelino, borda em ponto cruz sobre alguns desenhos de Al Koef feitos em etamine.

As peças do artista mostram elementos da religião islâmica como mesquitas e minaretes e também paisagens de países árabes muçulmanos pelos quais Al Koef já passou, como a sua nação de origem, a Argélia, a Tunísia e a Jordânia. "Eu faço pinturas sobre a minha terra porque sinto saudades de lá", diz. Ele também pinta lugares de outras regiões do mundo para as quais já viajou nos 21 anos em que trabalhou como diretor de uma multinacional. Uma rua de muçulmanos na Bósnia, por exemplo, já foi pintada por Al Koef. Os camelos também são figuras comuns em seu trabalho.

Al Koef, que se mudou para o Brasil ainda na adolescência, depois que teve aulas de geometria espacial em um curso preparatório do Colégio Pentágono para ingressar no Instituto Militar de Engenharia. "Percebi que a partir de um ponto podia fazer um espaço volumétrico", conta o artista. Al Koef começou então a desenhar para se distrair, em guardanapos de papéis de restaurantes. Depois foi aperfeiçoando o trabalho e passou também a pintar. "A minha mãe pintava. Ela me passou toda a sua experiência com cores", diz o argelino.

A vida de Al Koef, que tem 47 anos, sempre foi cheia de idas e vindas entre o Brasil e a Argélia. Os seus pais nasceram e moraram no Brasil, mas a sua avó paterna era argelina. Dessa maneira, o artista foi criado na Argélia por tios. Voltou para o Brasil para estudar. Al Koef fez vários cursos técnicos e se formou em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. Ele também estudou em outros países, como a Alemanha, e fez Mestrado em Finanças. "Minha distração sempre foi estudar", diz. Al Koef é muçulmano. A sua esposa, Haddad, nasceu no sul da Espanha e vive no Brasil há 19 anos.

A exposição no GAM terá um total de 121 obras. Algumas serão de pacientes do Hospital Dia, voltado para tratamento mental, onde Al Koef ensinou desenho e pintura. A exposição deve ter também artesanato de Maricá, que é semelhante ao de países muçulmanos, e peças de roupas do estilo usado em países islâmicos. A abertura da exposição ocorrerá às 19 horas do dia 06 de julho. Ela estará aberta para visitação de terça-feira a domingo, das 14h às 18h.

Serviço

Semana Islâmica de Artes
De 06 a 29 de julho
Das 14h às 18h
Na sede do Grupo de Artistas de Maricá (GAM)
Rua Álvares de Castro, 1277 - Orla de Araçatiba
Maricá, no Rio de Janeiro
Informações: (21) 2637-8021

Fonte: ANBA

16.6.07

Sushi brasileiro no Cairo

O Egito é um dos principais parceiros do Brasil no mundo árabe, mas agora, além de produtos como carne, açúcar e minérios, o país importou também a arte brasileira da fazer sushis, aprimorada durante os quase 100 anos de imigração japonesa. Dois estabelecimentos funcionam na capital egípcia com a marca Mori Sushi, restaurante fundado há 15 anos em São Paulo.

Aoyagi (E) e Morita passaram a ter uma outra imagem dos árabes após temporada no Cairo

Alexandre Rocha
alexandre.rocha@anba.com.br

São Paulo e Cairo – Não é de hoje que a culinária japonesa faz sucesso no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, faz muito tempo que os restaurantes do gênero deixaram os limites do bairro da Liberdade, tradicional local de moradia de imigrantes japoneses e descendentes, para se espalhar por todos os cantos da cidade. Agora, porém, o know-how brasileiro na preparação de sushis e sashimis chegou ao mundo árabe.

Desde o início do ano funcionam no bairro de Zamalek, no Cairo, dois pontos-de-venda com a marca do Mori Sushi, criado em São Paulo há 15 anos pelo filho de japoneses Francisco Morita Filho. Um deles, na rua Gabalaya, é um restaurante japonês propriamente dito, o outro é um sushi bar instalado dentro do Sequoia, badalado restaurante na capital egípcia que mistura aromas e sabores de várias partes do mundo.

O Sequóia, aliás, é algo à parte. Localizado às margens do Nilo, com uma bela vista, o ambiente é amplo, arejado, com decoração moderna e tem um cardápio internacional que vai dos suhis às especialidades libanesas tão conhecidas no Brasil, como quibes e charutinhos. Lá é possível também se recostar nas confortáveis cadeiras rentes ao chão e fumar uma shisha, como é conhecido o narguilé no Egito, escolhendo entre fumos de diversos aromas, que vão da maçã, passando pela banana, pêssego, laranja, café, entre muitos outros.

Morita Filho, cujo pai era dono da antiga rede de Supermercados Morita, conheceu seu parceiro egípcio, o empresário Hossam Fahmy, no ano passado em São Paulo. Fahmy atua no ramo de calçados e estava no Brasil a negócios. “Ele comeu no restaurante, gostou e propôs a abertura no Cairo”, disse Morita à ANBA. “Na época eu estava tranqüilo com os negócios aqui e decidi ir atrás de uma nova experiência”, acrescentou.

A convite de Fahmy, o empresário brasileiro foi ao Cairo para conhecer a cidade e levar o negócio adiante. Além de ceder a marca, Morita também transferiu o know-how na preparação dos pratos japoneses. Seu sushiman, Aldo Aoyagi, passou três meses no Egito treinando colegas árabes na arte de fazer sushis à moda brasileira.

“Eles conheciam os sushis tradicionais, não os que temos aqui, inventados no Brasil”, disse Aoyagi, filho de pai japonês e mãe nissei. Durante sua estada no Cairo, ele introduziu ingredientes nas receitas como camarões empanados, cream cheese e frutas como morango e manga. A inventividade dos sushimen brasileiros pode ser comparada à dos chefs da cozinha contemporânea, que inclui a elaboração dos bolinhos de arroz acompanhados dos ingredientes mais simples, como atum e salmão crus, passando por frutas e vegetais tipicamente brasileiros, até foie gras.

A estadia e o salário de Aoyagi, que montou o cardápio básico do Mori no Cairo, foram pagos por Fahmy. “Dei prioridade para três sushimen, que já tinham alguma experiência, para que depois eles repassassem o que aprenderam para outros”, disse. “Fui muito bem recebido por lá, me trataram super bem, estive nas casas dos colegas e conheci suas famílias”, acrescentou.

Com a experiência, Aoyagi e Morita passaram a ter uma nova imagem do mundo árabe. Acostumados a ver no noticiário cenas de conflitos no Oriente Médio, eles encontraram no Egito um povo amável e hospitaleiro. “No plano pessoal, a experiência serviu para desmistificar a imagem que eu tinha da religião muçulmana”, disse Morita. “Ao chegar no Egito a gente encontra pessoas amigáveis. Você pode, por exemplo, andar na rua com uma máquina fotográfica sem ter medo de ser assaltado. As pessoas param para conversar, parecem até com os brasileiros”, acrescentou.

Segundo Morita, o acordo com o empresário egípcio não envolveu ganhos financeiros. “No longo prazo, a experiência, a ampliação do conhecimento, valem mais do que o ganho financeiro”, acrescentou. Assim como Aoyagi foi ao Egito, Fahmy enviou um funcionário seu, chamado Abdul Kareim, para passar uma temporada em São Paulo aprendendo com o dia a dia do Mori Sushi, que tem dois endereços na capital paulista, um em Perdizes, na zona oeste, e outro nos Jardins, na zona sul.

Imigrantes

Embora as culturas árabe e japonesa sejam bastante diferentes, suas presenças no Brasil têm traços semelhantes. Assim como reúne a maior coletividade árabe fora do mundo árabe, o país concentra também a maior colônia japonesa fora do Japão e, nos dois casos, São Paulo tem as maiores comunidades.

O início da imigração japonesa ao Brasil vai completar um século no próximo ano. Os primeiros japoneses chegaram ao Porto de Santos a bordo do Kasato Maru em 1908. Já os árabes começaram a desembarcar no Brasil no fim do século 19. No início, os integrantes das duas coletividades trabalharam em ramos diferentes, os japoneses principalmente na agricultura e os árabes no comércio. Hoje, porém, os descendentes destes imigrantes estão presentes em praticamente todos os segmentos da sociedade brasileira.

Outra semelhança é a presença cultural. Existem diversas entidades e agremiações de origem árabe e japonesa. Assim como é possível comer quibes, esfihas, homus e kaftas em qualquer ponto de São Paulo, se pode também saborear sushis, sashimis, tempurás e yakissobas em todo lugar, até em carrinhos de ambulantes nas ruas.

Se você quiser comprar um narguilé, ou shisha, basta ir à Rua 25 de Março, no centro da capital paulista, para encontrar um. Mas se você quiser preparar um bom sukyaki, tradicional ensopado japonês, é só ir ao bairro da Liberdade, também na região central da cidade, para se abastecer dos ingredientes.

Contatos

Mori Sushi
Tel: +55 (11) 3872-0976
Rua Melo Palheta, 284, Perdizes, São Paulo - SP

Mori Sushi Jardins
Tel: +55 (11) 3898-2977
Rua da Consolação, 3610, Jardins. São Paulo - SP

Mori Sushi Cairo
Tel: +202 135-0206
Rua Gabalaya, 19, Zamalek, Cairo

Sequoia
Tel: +202 735-0014
Rua Abu El-Feda, Zamalek, Cairo


Fonte: ANBA

6.6.07

Mohammed é o segundo nome mais popular dado a bebês britânicos

Quase 6.000 recém-nascidos receberam o nome, em 12 variações, só em 2006. O nome mais comum dos bebês da Grã-Bretanha é Jack.


Mohammed se tornou o segundo nome mais popular para os recém-nascidos no Reino Unido e, em breve, pode se transformar no primeiro, segundo um estudo do jornal "The Times".


No total, 5.991 bebês que nasceram no país em 2006 receberam este nome - em uma de suas 12 diferentes variações -, que ficou imediatamente atrás de Jack, o mais popular, e à frente em popularidade de Thomas, Joshua e Oliver.


A escolha do nome deve-se ao crescente número de jovens muçulmanos que têm filhos, unido ao desejo de fazer uma homenagem ao profeta Maomé.


Segundo Muhammad Anwar, professor de Relações Étnicas da Universidade de Warwick, "os pais muçulmanos querem ter algo que mostre um vínculo com sua relação ou com o profeta".


Para o mufti Abdul Barkatullah, ex-imã da mesquita londrina de Finchley, "os pais que dão esse nome a seus filhos acham que terá um efeito sobre sua personalidade e seu caráter".


Se a atual tendência for mantida - a freqüência de escolha do nome aumentou 12% em 2006 -, Mohammed, que passou a figurar entre os 30 preferidos em 2000, ocupará o primeiro lugar ainda neste ano.


Com 1,5 milhão, os muçulmanos representam apenas 3% da população do Reino Unido, mas os membros desta religião têm em média três vezes mais filhos que os não-muçulmanos.


Segundo estatísticas oficiais, uma família muçulmana média era formada por 3,8 pessoas, enquanto um terço das famílias desta religião tinha mais de cinco integrantes.


O nome preferido das filhas de pais muçulmanos é Aisha, que, em 2006, ocupava apenas a 110ª posição de preferência.


Fonte: Globo.com

4.6.07

Famílias de Srebrenica processam ONU e Estado holandês

Reuters/Brasil Online

Por Harro ten Wolde

HAIA (Reuters) - Parentes das vítimas do massacre de Srebrenica, em 1995, processaram na segunda-feira o Estado holandês e a Organização das Nações Unidas por permitirem que muçulmanos fossem mortos por forças sérvio-bósnias.

Advogados disseram que a Holanda é culpada por recusar apoio aéreo para suas próprias tropas que defendiam a cidade bósnia de acordo com um mandato da ONU, abrindo caminho para os assassinatos de 8 mil a 10 mil homens e garotos.

Cerca de 200 mulheres, parentes das vítimas de Srebrenica, marcharam até o gabinete do primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, e entregaram documentos legais.

Carregando faixas com os nomes das vítimas, as mulheres caminharam silenciosamento em círculos do lado de fora do ministério, perto do Parlamento, por mais de uma hora.

"Esperei 12 anos por isso, pode ser uma outra injustiça se levar muito tempo de novo", disse Munera Subasic, presidente da Fundação de Mães de Srebrenica.

Durante a guerra da Bósnia, de 1992 a 1995, Srebrenica foi declarada área segura e guardada por uma unidade do Exército holandês que servia como parte de uma força maior da ONU na Bósnia.

Os soldados holandeses, levemente armados e sem apoio aéreo, foram forçados a entregar o enclave às forças sérvio-bósnias, que massacraram homens e garotos muçulmamos que confiavam na proteção das tropas holandesas.

Fonte: O Globo Online


29.5.07

Feira de produtos de beleza movimenta Arábia Saudita

Silwan Abbassi*

Brasília - Começou ontem (28) em Riad a feira Lady Beauty. Com três dias de duração, a feira conta com a participação de mais de 100 companhias nacionais e internacionais especializadas em produtos de beleza femininos. Após o sucesso da feira no ano passado, o número de participantes aumentou de modo significativo este ano. As informações são do jornal saudita Al Riyadh.

Promovida no Four Seasons Hotel, em Riad, a Lady Beauty é uma das maiores feiras do setor de produtos de beleza na região. A organização espera mais de 20 mil mulheres na feira este ano. O valor total dos produtos expostos é de aproximadamente 200 milhões de riais sauditas (US$ 53 milhões). Os últimos lançamentos do mundo dos cosméticos e da moda serão apresentados ao público, predominantemente feminino. Novos tratamentos de beleza serão apresentados pela primeira vez no mercado saudita.

Com o aumento no número de companhias participantes neste ano, a feira gerou mais de 180 empregos para mulheres até agora, a maioria deles em marketing e vendas. A indústria da beleza está crescendo de forma nunca vista no Oriente Médio, principalmente na Arábia Saudita, onde foram abertas lojas e grandes centros que oferecem todos os programas modernos de tratamento de beleza para mulheres.

De acordo com o jornal Arab News, Hammed Al-Hushan, secretário do Comitê Nacional de Companhias Expositoras da Arábia Saudita, disse que haverá 400 feiras no país durante o verão. Cinqüenta e cinco dessas feiras serão voltadas exclusivamente para produtos femininos. Segundo Abdullah Al-Gubairy, membro do Comitê de Conferências e Showrooms da Câmara de Comércio, as feiras para mulheres correspondem a 15% do total de feiras comerciais que acontecem no país.

"As feiras comerciais desempenham um papel econômico e social no país. O mercado saudita precisa de mais feiras voltadas ao público feminino e das quais companhias populares possam participar. Isso dá às mulheres a oportunidade de escolher seus produtos cosméticos, roupas e jóias favoritas, além de conhecer as mais novas marcas e produtos sem ter que sair do país", disse Nabilah Yagmour, especialista em gerenciamento de show rooms. Nos últimos anos, as feiras de produtos femininos têm gerado centenas de empregos temporários para as mulheres sauditas, entre as quais há um alto índice de desemprego.

*Tradução de Gabriel Pomerancblum

Fonte: ANBA

26.5.07

Pela Paz


Este ano marca o 40º aniversário da chamada Guerra dos Seis Dias, que resultou na ocupação por Israel dos territórios palestinos de Gaza e Cisjordânia, das colinas de Golan (Síria) e do deserto do Sinai (devolvido ao Egito, em 1982, em troca de um tratado de paz). Também foi conquistada a parte oriental de Jerusalém, que poucos países reconhecem como capital de Israel.

A experiência da ocupação provou que não há solução militar para o conflito palestino-israelense e que a paz é vital para os dois povos. Escaramuças permanentes, onde não faltam atos de terrorismo e violações das leis internacionais, trazem sofrimento e tensão para ambos os lados. Uma cultura de ódio e segregação dificulta o trabalho de aproximação e reconhecimento. O fundamentalismo religioso, presente em ambas as partes, apimenta a situação.

Organizações não-governamentais de Israel e dos territórios palestinos, juntamente com personalidades comprometidas com a solução do conflito, lançaram a Iniciativa Cinco de Junho para a Paz Israelense-Palestina (www.june5thinitiative.org). Durante uma semana, a partir do próximo dia 5 de junho, serão convocadas manifestações em muitos países, imantadas pelo princípio de Dois Povos, Dois Estados, Uma Paz. A intenção é mobilizar o maior número possível de pessoas e entidades para que pressionem as lideranças de ambos os povos com vistas a discutir seriamente um acordo de paz. A base do diálogo seriam as fronteiras de junho de 1967. Já há adesões em países como Austrália, Estados Unidos, Bélgica, Canadá, Egito, França e Jordânia, em uníssono com pacifistas de Jerusalém, Ramala, Tel Aviv e Gaza.

A ASA considera relevante esta proposta, embora ela não contemple questões delicadas como a situação dos refugiados palestinos (mais de 4 milhões, segundo a ONU) e o status final de Jerusalém. Entretanto, tendo em vista a animosidade acumulada em décadas de conflitos intermináveis, ela pode ajudar a quebrar a couraça e mandar um sinal claro para os beligerantes: setores importantes das comunidades judaica e árabe condenam a carnificina e defendem o direito de israelenses e palestinos viverem em paz, segurança e prosperidade. Se árabes e judeus marcharem juntos nas ruas de muitos países, estará criado um fato político denso. Ficaremos ao lado daqueles que, no Brasil, se incorporarem a este movimento.

Fonte: ASA


Irã - um ponto de vista

por Michael Gordon

Sob a sombra dos atentados terroristas recentes, uma imagem vem a minha cabeça: um mulá na rua Ferdosi, centro de Teerã, me explicando como chegar ao cemitério judaico. Mas poderia ter me lembrado de outra cena. No mesmo cemitério, uma tumba de um jovem judeu que morreu na guerra contra o Iraque. Quem diria? Quem poderia imaginar que um judeu daria sua vida pelo regime do aiatolá? É assim que vivem os judeus iranianos. Têm seus cemitérios, suas sinagogas, seus clubes, trabalham no comércio, são médicos, professores etc. Há apenas uma exigência para que essa paz não seja destruída: devem ser contrários à existência do Estado de Israel. Evidentemente essa não é uma tarefa fácil. Os judeus do mundo todo rezam pedindo que no ano seguinte estejam em Jerusalém! Nem todos os judeus iranianos seguem à risca essa recomendação, eles dão um jeito, arrumam estratagemas para visitar Israel, mas se são pegos nessa empreitada, têm seus passaportes confiscados e não podem sair do país por vários anos.

O roteiro preferido para essa viagem é através da Turquia ou Chipre. No aeroporto israelense já é praxe carimbar o visto num papel separado e não no passaporte, justamente para casos como esses.

Há alguns anos, treze judeus foram presos, acusados de espionagem para o Estado de Israel. Em sua maioria, são professores de Teologia das cidades de Isfahan e Shiraz, no centro sudoeste do país. A prisão fica em Shiraz e atualmente onze permanecem presos e sem julgamento. Nem o próprio Khatami, o presidente legitimo, com quase 80% dos votos, pode fazer alguma coisa, já que, no poder judiciário, quem manda é o aiatolá Khamenei, sucessor de Khomeini desde 1989.

Na sede do Jewish Committee, em Teerã, encontrei algumas fotos do funeral do aiatolá que mudou a história do Irã, transformando-o na primeira república islâmica do mundo. Interessante foi observar um grupo de judeus em luto pela morte deste líder, que pregou a destruição de Israel. Segundo os próprios judeus que encontrei pelos corredores, ele foi um bom homem, inclusive para os judeus, mantendo uma espécie de proteção aos judeus e cristãos, como os dhimmi, os "protegidos" do Império Otomano, que, embora fossem designados por este termo no mundo islâmico, tinham que pagar impostos mais elevados e de vez em quando sofriam perseguições.

Claro que a maioria dos judeus saiu do Irã após a revolução de 1979, assim como saíram do Marrocos após a independência deste, em 1956. Embora eles tenham sempre tido um status de minoria protegida nos países islâmicos, desde a criação de Israel as hostilidades aumentaram e esses países passaram a tratar os judeus como possíveis espiões do Estado judeu. Mas, ainda assim, o Irã engolfa a maior comunidade judaica do Oriente Médio. Não só a maior, como uma das mais antigas, remontando aos tempos dos aquemênidas, muito antes do islamismo se tornar a religião oficial dos persas. Naquele tempo, a religião oficial era o zoroastrismo, e ainda hoje existem praticantes, principalmente em Yazd, onde está o Ateshkade, o templo zoroastrista que guarda a chama eterna.

Essa comunidade está dividida por várias cidades. Teerã, a capital, abriga cerca de doze mil judeus e tem mais de vinte sinagogas, sendo as principais Abrishami e Youssefabad. Em Shiraz encontra-se o segundo maior grupo, oito mil judeus. Isfahan tem cerca de mil e quinhentos e outras cidades abrigam pequenos grupos de cem, as vezes cinqüenta; em Kerman, sudeste do Irã, havia cerca de trinta judeus. A cidade baixa, onde eles vivem, não tem ruas asfaltadas, mas tem uma belíssima sinagoga. Dentro dela há um telefone para chamar os poucos adultos que formam o minian, os dez homens necessários para que se dê início aos serviços religiosos.

Uma das mais agradáveis surpresas da viagem foi a visita ao mausoléu de Esther e Mordechai, os protagonistas de uma das mais belas histórias judaicas, que está inserida na Bíblia, no Livro de Esther. Esse mausoléu se encontra em Hamadã, cidade próxima ao Iraque, e próxima ao sítio arqueológico de Shush, onde supostamente os dois viveram.

No extremo oposto do país, na cidade de Mashad, encontra-se o maior centro de peregrinação do Islã: o túmulo do imã Reza. Os imãs são os profetas do islã. Enquanto os sunitas acreditam em apenas três, os xiitas acreditam em doze, sendo que o último, o imã Zaman, ainda vai chegar (* VER NOTA). O único dos imãs que está enterrado no Irã é o oitavo, Reza, que foi envenenado e morreu em 817. Portanto, esse local é sagrado apenas para uma pequena parte dos muçulmanos, já que a grande maioria é sunita.

O Irã dos contrastes preserva na indumentária feminina a insígnia de seu fundamentalismo. Nada comparado ao vizinho Afeganistão, mas, mesmo assim, os direitos adquiridos nas últimas décadas pelas mulheres ocidentais estão longe de ser alcançados pelas iranianas. Entretanto, muitas delas aprovam o uso obrigatório do xador, o manto preto que as cobre dos pés aos cabelos. Elas acreditam que o pano é uma ferramenta de segurança para a mulher nas ruas.

Os costumes são diferentes e há certas regras que não compreendemos. Parece-nos difícil de entender a necessidade do uso do xador. As mulheres não podem sair de casa sem se cobrir e isso soa como um cerceamento dos direitos da mulher, o que não deixa de ser verdade. Apenas devemos analisar e buscar respostas de acordo com os costumes islâmicos. Os próprios judeus iranianos aprovam o uso do xador para suas mulheres, afirmando que o judaísmo também proíbe as mulheres de mostrar seus cabelos. Às vezes surge entre nós uma sensação de retrocesso na vida dessas pessoas. Mas essa não é a pura expressão da verdade. Nós temos muito a aprender com os iranianos, particularmente com relação à sua hospitalidade.

OLHO - Interessante foi observar um grupo de judeus em luto pela morte de Khomeini.

*
* *

Michel Gordon, 26 anos, é doutorando em Física dos Oceanos pela USP e viajou ao Irã para tentar entender como vivem os judeus num país islâmico fundamentalista.

Fonte: ASA


* NOTA: Os imames não são os profetas do Islã. São líderes religiosos. Mesmo para os xiitas eles não são considerados profetas, mas líderes religiosos inspirados por Deus. Os sunitas não consideram que seus imames sejam inspirados por Deus e os vêem como pessoas comuns.


24.5.07

Capoeira conquista adeptos no mundo árabe




Quando o berimbau começou a tocar, havia 26 pessoas na pequena sala de ginástica em Rabat: a maioria marroquinos, meia dúzia de refugiados do Congo e uma dezena de belgas, franceses, espanhóis e angolanos. Apenas três, incluindo
Braz, um dos instrutores, eram brasileiros.

Mas quase toda a aula de capoeira, além dos cantos, foi em português, língua que muitos começam a dominar.

Depois da Europa e dos Estados Unidos, a capoeira está ganhando adeptos no mundo árabe.

No Marrocos, onde acaba de ser realizado um encontro internacional, existem grupos em pelo menos quatro cidades: Casablanca, Essaouira, Salé e na capital, Rabat.

Mas a arte marcial brasileira, desenvolvida pelos escravos vindos da África, já fincou seus pés também na Argélia e no Egito.

Integração

Para o instrutor Zohir Lakhdar, mais conhecido como Saguim, "a capoeira é um instrumento de integração" num mundo marcado por tensões sociais, culturais e religiosas.

Nascido há 32 anos na Bélgica, de pais marroquinos, ele aprendeu capoeira e português em Bruxelas, com o mineiro Venceslau Augusto de Oliveira - o Braz. Em maio de 2005 resolveu mudar-se para o Marrocos e introduziu a capoeira em Rabat.

Seguindo o exemplo de Braz, Saguim incorporou a capoeira a projetos de integração social.

Funcionário do Ministério das Relações Exteriores e de Desenvolvimento do Marrocos, nas horas vagas ele dá aulas de capoeira numa academia, a um grupo de meninos pobres de Rabat, a outro de adolescentes de Salé e a cerca de 20 refugiados do Congo.

Foi ele que organizou o encontro internacional, realizado no início do mês, com a participação de capoeiristas da Bélgica, França, Espanha e Brasil.

"Com tanto conflito, desemprego e pobreza, os jovens de hoje precisam de um modelo, para não caírem no fatalismo e no desespero", diz Saguim, que dá suas aulas num português salpicado de francês e árabe.

Segundo o marroquino Driss Jaouzi, de 33 anos, nada mais natural do que ter aula numa língua estrangeira.

"É o que acontece no mundo islâmico. Existem muçulmanos de muitas nacionalidades, mas na hora de rezar todos rezam em árabe. Sendo assim, por que não jogar capoeira em português, já que a capoeira é brasileira?" pergunta Jaouzi, o Tijolo.

Projetos sociais

Aluno de Braz em Bruxelas, Tijolo é seu braço direito nos projetos sociais que está desenvolvendo, tanto no Brasil e na Bélgica quanto no Congo.

Em Bruxelas, eles trabalham com jovens de bairros pobres da periferia – muitos deles filhos de imigrantes marroquinos.

O próprio Braz conta que é "fruto de um projeto social". Ele praticava capoeira desde os seis anos de idade com seus irmãos em Vila Maria – uma favela de Belo Horizonte que virou bairro.

"Na época, havia tanta violência que a favela era conhecida como Poca Olho", lembra Braz. "Mas o Projeto de Integração da Criança pela Arte (Poca) transformou um nome de conotação pejorativa em algo positivo."

Foi graças a um intercâmbio cultural que Braz viajou para a Bélgica, onde formou-se em educação física e acabou se instalando. Mas ele continua promovendo projetos sociais em Minas Gerais e, a partir deste ano, começou a trabalhar no Congo, com "meninos soldados" e orfãos da guerra.

"A capoeira é mais do que uma disciplina esportiva. É um instrumento para estabelecer certos parâmetros e canalizar energia, num mundo de violência."

Nas aulas durante o encontro internacional, Braz explicava que na capoeira "ninguém luta, todos jogam" e que "não existem adversários, apenas parceiros".

O mesmo recado foi dado pelo instrutor espanhol David Balarezo, o Bala, que vive em Madrid e desembarcou em Rabat com um grupo de capoeiristas espanhóis e duas educadoras sociais.

Diálogo

Mesmo sem a presença de instrutores, grupos de capoeiristas estão brotando em diversas cidades.

É o caso da associação Capoeira Mogador, de Essaouira – cidade turística na costa marroquina. Foi formada por jovens que descobriram a capoeira na Internet, graças a sites como You Tube.

Um deles, Redouan, de 27 anos, fabricou um berimbau. "Tinha mil defeitos. A corda estava mal-amarrada, o som estava errado, mas um turista me viu andando na praia com o instrumento e me perguntou se eu era capoeirista", conta Redouan. "Para minha sorte, ele era capoeirista e nos deu algumas aulas."

No Cairo, um grupo de 20 pessoas está treinando sozinho, enquanto espera que alguém responda a um anúncio de "busca-se professor" no site www.capoeira.com.

Segundo o capoeirista belgo-marroquino Jaouzi, o sucesso da capoeira é a sua versatilidade.

"A capoeira é um diálogo, aberto a todos. Reúne tradição e muitas formas de expresão: canto, percussão, ginga e acrobacia. Ou seja, é sempre possível encontrar alguma coisa para fazer."


Fonte: BBC Brasil

Empresárias do Golfo têm investimentos de US$ 25 bilhões

Os investimentos das mulheres do Golfo Arábico estão concentrados nas áreas de comércio, imóveis e no setor bancário. No Catar há mil empresas pertencentes a mulheres, com capital de US$ 852 milhões.

Silwan Abbassi*

Brasília - As mulheres de negócios dos países do Golfo Arábico têm investimentos de aproximadamente US$ 25 bilhões, segundo o jornal jordaniano Addustour. Os investimentos estão concentrados nas áreas de comércio, imóveis e no setor bancário. Segundo estimativas, 12% das executivas da região ocupam cargos de direção geral e 48% trabalham no comércio.

Estatísticas recentes mostram que no Catar há atualmente mil empresas pertencentes a mulheres. Estas organizações têm investimentos de 3,1 bilhões de riais, o equivalente a US$ 852 milhões, principalmente no setor imobiliário e no mercado de ações, mas também em indústria, no setor bancário, em turismo e comércio.

Segundo o jornal, as cidadãs do Catar são atualmente mais da metade das operadoras de bolsa no país, tendo em mãos cerca de 1 bilhão de ações avaliadas em 10 bilhões de riais, ou US$ 2,7 bilhões.

Já na Arábia Saudita, segundo informa o jornal árabe Asharq Alawsat, o capital em poder de mulheres já alcança 60 bilhões de riais sauditas, equivalentes a US$ 16 bilhões. Os dados são do Centro Khadeejah bint Khuwailed, afiliado à Câmara de Comércio e Indústria de Jeddah. De acordo com a instituição, os fundos administrados por mulheres sauditas são geralmente aplicados nas bolsas de valores e geram bons retornos.

Sempre de acordo com o jornal árabe, as mulheres são atualmente 56,5% das alunas de graduação na Arábia Saudita, representam 14,11% da mão-de-obra do país, 30% da mão-de-obra no setor público, 84,1% das trabalhadoras na educação pública. Elas também formam 40% da classe médica e detêm 20% do capital em fundos de investimento. São proprietárias de cerca de 20 mil empresas de pequeno e médio porte no país.

Conferência

Para discutir as oportunidades e o desenvolvimento de investimento de empresárias nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), bloco econômico que inclui Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã, ocorreu ontem (26) em Doha, capital do Catar, a conferência do Comitê de Empresárias do Golfo.

A pauta da reunião incluiu formas de fortalecimento da operação de mulheres no setor econômico e também a comparação da participação de empresárias e empresários nas comunidades do Golfo.

Outro assunto abordado foi a criação de uma empresa para mulheres do GCC cujo objetivo seria o financiamento de pequenos projetos de investimento e também o treinamento de mulheres, com a intenção de auxiliar a iniciativa privada na contratação de mulheres. Também está planejada a criação de uma página de internet dedicada às empresárias da região mostrando suas atividades, investimentos e áreas de trabalho.

O Comitê de Empresárias do Golfo é uma organização ligada à Federação de Câmaras de Comércio e Indústria do GCC, e tem em seu conselho administrativo doze mulheres.

*Tradução de Mark Ament


Fonte: ANBA

19.5.07

Ser árabe no mundo atual*

Por Mohamed Habib

Sentir-se um cidadão respeitado nos seus direitos e integrado numa sociedade fraterna e solidária, hoje em dia, é extremamente difícil para qualquer um. Imagine, então, caro leitor, o que um árabe poderia sentir no mundo atual?

Ele vem sofrendo durante as últimas décadas, seja dentro ou mesmo fora do seu país de origem. O povo árabe, entre decepção e amargura, vive numa realidade de sociedades oprimidas, pobres e com os índices de desenvolvimento humano mais baixos na sua história. Independentemente das causas, naqueles países não há democracia. Não há respeito aos direitos humanos, muito menos perspectivas para alcançá-lo. O árabe buscou a sua dignidade durante a guerra fria, quando houve o maior movimento para conquistar a sua liberdade e a sua independência, tornando-se livre dos colonizadores europeus. Nasser foi o símbolo do pan-arabismo e da dignidade árabe.

Hoje é diferente, visível é a segregação aguda entre esses povos, e dentro deles, além de muros de separação que levam palestinos, por exemplo, à vida mais humilhante que alguém poderia imaginar. As últimas semanas vêm testemunhando, ainda, a construção de outros muros de separação, agora na cidade de Bagdá, tirando dos iraquianos o direito de ir e vir dentro de seu próprio país, que sofre de uma ocupação militar dos Estados Unidos desde 20 de março de 2003. Os tribunais internacionais repudiam e condenam a construção de tais muros de segregação de civis, porém o império continua surdo e mudo.

Percebe-se hoje, e de uma forma bastante visível, que a colonização continua existindo, embora de formas diferentes. O mundo árabe perdeu a sua autonomia quando perdeu a sua capacidade de elaborar e executar programas para o desenvolvimento dos seus povos, que consomem produtos e serviços, na sua maioria, produzidos por outros. Vender petróleo como matéria-prima ou receber turistas para mostrar glórias de passados remotos não garante a soberania dos povos. Além de não aproveitarem cérebros já existentes, induziram pensadores e intelectuais a deixar seus países de origem para poder atuar com mais liberdade em vários cantos do mapa mundi.

A dominação política e econômica exercida sobre o mundo árabe pelos países que detêm o conhecimento científico e tecnológico já extraiu quase tudo que significa de ético nas relações dos países centrais, liderados pelos Estados Unidos, com o mundo árabe. A interferência, a pressão política e a violência exercidas pela potência resultaram, entre várias conseqüências catastróficas, na deterioração da qualidade de vida desses povos, na destruição do patrimônio histórico da humanidade e na total desesperança do árabe em relação ao amanhã.

E aquelas comunidades árabes que vivem fora do Oriente Médio, e são identificáveis pela fisionomia, ou mesmo pelo seu rótulo de identificação, como elas vivem o seu cotidiano?

Além da tristeza e da amargura lá sentida, no Ocidente sofrem da solidão étnica, de campanhas de difamação lideradas pela mídia conservadora e pela indústria cinematográfica norte-americana, além de manifestações preconceituosas de organizações e de instituições aliadas às políticas imperialistas do atual governo dos Estados Unidos.

Por sorte da comunidade brasileira de origem árabe, a pluralidade étnica cultural deste país abençoado vem aumentando cada vez mais a sua solidariedade com o mundo árabe e com os seus descendentes brasileiros. O grande encontro dos chefes dos Estados árabes no Brasil e a visita do Presidente Lula à quase a totalidade daqueles países são indicadores bastante fortes desta harmonia.

Cabe, aos árabes do Oriente Médio, assumir seu papel para a construção da sua cidadania, qualificar seus filhos, gerar ciências e tecnologias, conquistar a liberdade dos seus povos e construir regimes democráticos respeitadores dos direitos humanos.

E aqueles descendentes que hoje pertencem a outras nações precisam honrar a sua origem, contribuindo cada vez mais, nos seus postos, para merecer a confiança a eles dada pelas suas novas pátrias. Ainda, os nossos filhos, principalmente no Ocidente, devem informar-se corretamente sobre a história do Oriente Médio e sobre o interesse dos países dominantes naquela região. Aí, sim, eles poderão participar efetivamente do debate e do diálogo para esclarecer para a sociedade mundial o porquê da injustiça que o árabe sofre no mundo atual.


Mohamed Habib, engenheiro agrônomo e doutor pela Universidade de Alexandria, Egito, e pela UNICAMP. Ecologista, é especialista em biologia vegetal e autor de livros e artigos. É professor titular de Ecologia e pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários. Nasceu em Port Said, é egípcio de nascimento. Vive há 31 anos no Brasil.


Fonte: ICARABE

17.5.07

Mulheres disputam Rali de Teerã

Com suas vestimentas típicas, iranianas mostram toda a sua beleza antes da largada



A navegadora Razieh Jalilipour estuda o mapa da corrida antes da largada da quarta etapa do Rali de Teerã, no Irã


Marzieh Jalilipour e sua irmã Razieh conversam com um competidor durante os preparativos para a etapa de quinta





A iraniana Zohreh Vatanpour ajeita o protetor de pescoço antes da largada do Rali de Teerã




Concentradas para a largada, as iranianas mostram seus belos olhos para os fotógrafos do Rali de Teerã


5.5.07

Fome Zero no Egito

O ministro brasileiro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, participa na quarta e quinta-feira desta semana de um encontro ministerial da área social de países árabes e sul-americanos no Cairo. Lideranças das duas regiões vão apresentar, no encontro, suas políticas de desenvolvimento social. Ananias vai falar dos programas nacionais de transferência de renda.

Isaura Daniel
isaura.daniel@anba.com.br

São Paulo - O governo brasileiro vai apresentar as suas políticas públicas sociais aos países árabes na próxima semana, no Cairo, capital do Egito. O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, participa, na quarta (02) e quinta-feira (03), de um encontro entre ministros da área social de países árabes e sul-americanos. A reunião faz parte da agenda de seguimento da Cúpula dos Países Árabes e Sul-Americanos, encontro de chefes de estado das duas regiões que ocorreu em maio de 2005 no Brasil. De acordo com o coordenador de seguimento da cúpula no Itamaraty, Ânuar Nahes, essa é a primeira reunião ministerial sul-americana e árabe feita para tratar do tema social.

"A reunião servirá para uma troca de experiências entre os programas sociais desenvolvidos em cada um dos países, que têm nível de desenvolvimento semelhante e também problemas semelhantes", disse Nahes, que deve acompanhar o ministro na viagem. Um dos programas brasileiros dos quais o ministro Ananias vai falar, de acordo com material divulgado pela assessoria de imprensa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, é o Fome Zero, do qual faz parte o Bolsa Família. Ele é um projeto de transferência de renda para a população carente, que beneficia 11 milhões de famílias no Brasil, e tem sido citado como modelo por outros países e organismos internacionais.

De acordo com Nahes, o Fome Zero pode interessar aos árabes. Segundo informações do Ministério de Desenvolvimento Social, o Egito é um dos países que tem demonstrado interesse no programa. O Banco Mundial apresentou ao país árabe, em 2005, o Bolsa Família, além de um projeto mexicano, como alternativa para combate à pobreza e para a inclusão social. No encontro que ocorre no Cairo vão participar autoridades dos 34 países árabes e sul-americanos. Na pauta estarão, além dos programas sociais de combate à pobreza, outros temas ligados aos objetivos do milênio, determinados pelas Nações Unidas. As metas englobam desde a melhoria do ensino básico até o combate a doenças mundiais.

O ministro brasileiro Patrus Ananias vai participar já da abertura do encontro, na quarta-feira, estará também durante as discussões da reunião e no seu encerramento, na quinta. A assessora especial do Fome Zero no Ministério, Adriana Aranha, também acompanha o ministro e participa, nesta segunda (30) e terça-feira (01), de reuniões prévias de especialistas para preparação do encontro ministerial. Atualmente, o Brasil tem 62 milhões de brasileiros beneficiados por programas do Ministério de Desenvolvimento Social. O país é conhecido por seus graves problemas sociais, mas agora, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, está também ganhando destaque internacional pelos programas criados para combatê-los.


Fonte: ANBA

O português nascido do árabe

O médico catarinense Júlio Doin Vieira lançou o livro "Dicionário de termos árabes da língua portuguesa", que revela a origem de diversas palavras utilizadas no cotidiano brasileiro. Ele passou dois anos debruçado em dicionários para pesquisar o assunto.

Isaura Daniel
isaura.daniel@anba.com.br

São Paulo - Enxoval é um conjunto de roupas e certos complementos, em geral úteis, de quem se casa, de recém-nascido ou de jovem que se interna em colégio. Essa é a explicação para a palavra que está no livro do catarinense Júlio Doin Vieira. O livro também diz que enxoval é uma palavra originária do termo árabe as-siwâr, que significa utensílios ou mobiliário. Vieira publicou há cerca de três meses um livro para mostrar as palavras em português que são originárias do idioma árabe. Na lista estão desde acelga, verdura cujo nome vem do árabe as-silq, fatia, que vem de futât, fulano, originária de fulân, e mameluco, do termo árabe mamlûks, que quer dizer escravo ou propriedade de alguém.

O livro, chamado "Dicionário de termos árabes da língua portuguesa", foi lançado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e tem 215 páginas. Vieira, que é médico, foi professor no curso de Medicina na instituição. Hoje com 82 anos, o catarinense está aposentado. Foi na rotina de aposentado, aliás, que surgiu a inspiração para fazer o livro. "Eu estava com insônia, aí tive a idéia de escrever o livro", diz Vieira, com seu jeito brincalhão. Somado à falta de sono, Júlio Doin Vieira tinha - e tem - na sua casa, em Florianópolis, cerca de 70 dicionários. Mesmo sem ser especialista em línguas, ele se aventurou no trabalho de resgatar a paternidade árabe das palavras faladas no Brasil.

O trabalho durou cerca de dois anos e foi concluído no final do ano passado. Vieira já conhecia a influência árabe sobre o idioma português em função dos seus conhecimentos de história, e conseqüentemente das invasões mouras à Europa, onde os árabes deixaram uma vasta herança cultural. O médico não era, porém, especialista no assunto antes de escrever o livro. No decorrer da pesquisa, que fez junto aos seus dicionários, foi tendo agradáveis surpresas. "Você sempre acha coisas para decifrar, para ler, rir e comentar", diz. Vieira não tem descendência árabe, mas portuguesa, francesa, alemã e cabocla. E bom humor. "Dizem que árabes são todos que têm cabelo no dedo anular da mão esquerda. Eu não tenho", fala.

Vieira exerceu a Medicina por 54 anos, deu aulas na Universidade Federal de Santa Catarina por 30 anos e foi chefe do Serviço Médico do Diretório Estadual de Trânsito (Detran) de Santa Catarina por 38 anos. Tem também sete livros publicados sobre Medicina, Espiritismo e Maçonaria. Morador de Florianópolis, Vieira se mudou para a cidade com um ano de idade. Nasceu no interior, em uma cidade chamada Campos Novos. Na cabeceira da cama, ele mantém livros de poetas como Castro Alves e Augusto dos Anjos. Vieira é também presidente de honra da Academia Catarinense Maçônica de Letras.

O prefácio do livro de Vieira foi feito pelo presidente do Clube Homs, Sergio Zahr. Foi no clube, aliás, que foi feito o lançamento da publicação na cidade de São Paulo, no final do mês de abril. Júlio Doin Vieira vai dar uma sessão de autógrafos na Feira de Rua do Livro, que começou no dia 02 e segue até o dia 12, no Largo da Alfândega em Florianópolis. A sessão vai ocorrer no próximo domingo (06) a partir das 16 horas. O livro "Dicionário de termos árabes da língua portuguesa" custa R$ 30 e pode ser adquirido junto à Editora da UFSC.

Contato

Editora da UFSC
Telefone: +55 (48) 3721-9408
Site: www.editora.ufsc.br
E-mail: edufsc@editora.ufsc.br


Fonte: ANBA

Fim de um tabu: empresas e religião entram em acordo

Esse é o nome de um artigo muito interessante disponível no site mantido pela Warthon School, da Universidade da Pensilvânia. Infelizmente essa não é a realidade no Brasil e nem mesmo em alguns países da Europa, onde existe um número significativo de muçulmanos.

Alguns trechos relevantes do artigo, no que diz respeito aos muçulmanos:

"...Em um mundo de diversidade corporativa e de inclusão, primeiro havia a raça, depois o sexo e a etnia, mais tarde veio a orientação sexual. Agora chegou a vez da religião e, de acordo com especialistas e praticantes, ela veio para ficar por um bom tempo..."

“...Os acontecimentos mundiais giram em torno de questões religiosas diversas, portanto cabe às empresas reconhecer isso e trabalhar com esse elemento. Se você entende a religião como algo que permite às pessoas serem elas mesmas por inteiro também no trabalho, em vez de encarar a questão como uma barreira, tanto melhor para sua empresa...”

"...De acordo com o documento de ação executiva da Conference Board, empresa de pesquisa de Nova York, o empregado pode, dentro de determinados limites, usar medalhas ou vestimentas religiosas, discutir com outros colegas sobre matéria de fé e até mesmo distribuir literatura alertando os demais para o perigo que correm de queimar no inferno, a menos que mudem de vida. O empregador não pode insistir com uma mulher muçulmana para que ela tire o hijab (véu utilizado sobre a cabeça) com base no pressuposto de que os clientes se sentirão incomodados..."

Leia o artigo "Fim de um tabu: empresas e religião entram em acordo"
completo, para ter a informação em seu contexto.

15.4.07

Brasileira convertida fala de preconceitos sobre a religião

Por Gilmar Rodrigues


Esperando Maria Moreira, brasileira convertida ao islã, para a entrevista no centro do Rio, eu estava com uma preocupação: como cumprimentá-la? Eu já havia conversado com alguns homens muçulmanos, com diferentes graus de devoção, mas era a primeira vez que eu teria um contato próximo com uma mulher devota da fé islâmica. Cumprimentar com dois beijinhos nem pensar, isso eu já previa. Felizmente, a caminho do restaurante do Clube de Engenharia Civil onde conversamos, ela me ligou e advertiu que muçulmanos de sexos opostos não se cumprimentam com toques corporais. Fiquei mais aliviado. Questão resolvida, ela chegou vestindo hijab e, como era de se esperar, chamando a atenção por onde passava. Foi uma primeira lição de como o Brasil desconhece e estranha as manifestações religiosas muçulmanas. Durante o desenrolar da entrevista, muitos estereótipos vão sendo derrubados por Maria que, sem fazer proselitismo religioso, defende o Islã, a paz, o debate aberto e o conhecimento como forma de libertação dos preconceitos.

Maria Moreira é engenheira civil - não é descendente de árabes - de família católica, mas não muito praticante. Quando criança, ela às vezes freqüentava a igreja e gostava de ler a bíblia em quadrinhos. Na fase adulta, até 20 e poucos anos, virou agnóstica e aos 30 converteu-se ao islamismo. Hoje ela não só segue os preceitos, as regras, a filosofia da sua religião como a estuda e mantém um site de informação sobre o Islã (http://islamicchat.org). O site, que mantém um dinâmico fórum de debates, é mais voltado às mulheres, mas não só. No fórum de discussão opinam os dois sexos. Muitos dos assuntos tratados dizem respeito a todos. Há diversos artigos e com títulos instigantes como “As Raízes Islâmicas Esquecidas Dos Escravos”, “Entendendo As Diretrizes Políticas Islâmicas”, “Aids e Circuncisão”, “Entender o Fenômeno Talebã: Uma Tarefa Crucial Para O Movimento Islâmico”, “Muçulmanas e o Dever De Participação Na Sociedade” e “A Imagem Distorcida Da Mulher Muçulmana”.

Maria conta que a sua conversão deu-se por etapas. Certa vez em Salvador, onde tirava férias, conheceu um grupo de egípcios que trabalhava num petroleiro. Percebeu que eram pessoas muito simpáticas e agradáveis. Quando soube que eram muçulmanos levou um choque, “mas então não eram os monstros, os opressores de mulheres, e sim pessoas normais que tinha à sua frente?”, pensou. Como é uma pessoa curiosa, procurou ler sobre o islamismo para debater com o novo grupo de amigos. A princípio houve um proselitismo por parte deles, mas depois as conversas evoluíram para o debate. Quanto mais ela lia sobre o islamismo, mais achava interessante. Começou a ter dúvidas sobre sua posição agnóstica e passou a considerar a existência de Deus. Depois a aceitou. Como o motivo que a levou a voltar a acreditar em Deus foi o Islã, por coerência, achou que deveria abraçar essa religião. E assim o fez. Deixou de ir à praia, começou a usar roupas mais cobertas e acabou casando-se com um egípcio. Com o marido, viveu cinco anos no Rio de Janeiro e sete no Egito. No final de 2005, ela voltou para o Rio, o marido permanece em Alexandria. Um dos motivos que a fez voltar para o Brasil foi não ter conseguido trabalhar por lá. Esqueçam as falsas imagens do mundo árabe: as mulheres lá trabalham sim, mas o desemprego é muito grande. Se não é fácil nem para um egípcio conseguir emprego, imaginem para um estrangeiro. Como detesta ser dona de casa, a falta de uma ocupação a incomodava muito.

A reação dos egípcios, diante de uma não-descendente de árabes que virou muçulmana era, na grande maioria das vezes, de contentamento. Ficavam felizes, mas pensavam que ela não conhecia a religião, uma das perguntas mais comuns que faziam era “você sabe fazer as orações”? Evidentemente sabia. Segundo ela, sabe mais sobre o Islã que muito egípcios. “A pessoa vai para um país árabe e as pessoas tentam te empurrar os costumes árabes. Confunde-se muito o que é da cultura árabe e o que é islâmico. Narguilé e dança do ventre, por exemplo, não têm nada de islâmico. Em pequenas cidades no interior do Egito é comum colocarem as mulheres dentro de casa e restringir seus movimentos, não mandam as meninas para a escola. Eu demonstrava que isso não tem nenhuma base religiosa. As esposas do profeta estudavam, uma delas, Aisha, era alfabetizada e tornou-se o primeiro modelo de jurista da religião muçulmana. Quando alguns queriam justificar o machismo pela religião, eu logo citava os exemplos da vida de Mohamed e eles ficavam quietos”. Sobre a poligamia tão questionada no Ocidente, e permitida na fé islâmica, Maria chama a atenção para uma regra que poucos conhecem. A mulher tem a opção de exigir a monogamia no contrato de casamento. Foi isso que ela fez, exigiu que o marido abrisse mão de mais esposas. Mas isso não a preocupa, até porque a poligamia está em virtual desuso nos países de maioria muçulmana.

Em sua opinião há um clima de suspeita e perseguição contra os muçulmanos no mundo inteiro. “Aqui no Brasil, tem muita gente na comunidade que está com medo de ações anti-islâmicas violentas. As mulheres mais jovens não querem usar o véu para não serem vítimas de violência. Eu mesma já sofri uma tentativa de agressão. As agressões verbais são diárias. No metrô do Rio, seguidamente, param do meu lado, principalmente evangélicos, e cantam hinos ‘para espantar demônios’. Eu nem ligo mais, não respondo às agressões”. Mesmo antes dos atentados ao World Trade Center, Maria era sempre parada em portas de bancos. Ela lembra que, certa ocasião, foi ao shopping e notou que todos os seguranças atrás dela começaram a se movimentar e a falar nos walk-talkies freneticamente. Para ela, a aceitação aos muçulmanos no país melhorou após a novela “O Clone” da Rede Globo, apesar de muitos devotos terem reclamado de simplificações e estereótipos negativos expressos pela telenovela de Glória Perez. Alguns fatos derivados da falta de informação sobre a religião no Brasil são apenas pitorescos. Muita gente ao vê-la vestida com hijab acha que ela é estrangeira e dizem: “você fala bem o português, veio pequenininha pra cá”?

No Brasil, ainda é difícil para uma mulher abraçar o Islã. No caso dela, as reações da família foram negativas. A sua mãe chegou a pensar que Maria havia sofrido lavagem cerebral, que estava sendo drogada para aderir à religião. “Ela dizia que se eu casasse com um muçulmano tinha que andar atrás dele, se eu atrasasse para chegar em casa o marido iria me bater, essas coisas. Ela não se conformava com a minha escolha”. Logo depois da adesão, a cobrança de amigos e parentes foi enorme. “As pessoas acham que quando a gente se converte tem resposta para tudo, mas a gente não sabe tudo, eu me identifiquei com um princípio. Se as pessoas passassem a conhecer o Islã, parariam de me infernizar com essas perguntas”. Por isso uma das principais intenções do Islamic Chat é debater e trazer informação sobre a religião. Essa falta de informação, segundo ela, é muito grande também no mundo árabe. Isso se deve a falta de questionamento, onde a maioria muçulmana acha que já sabe tudo, não há debate. Essa livre discussão na internet provocou uma certa celeuma na comunidade muçulmana brasileira. “O fato de uma mulher sem origem árabe estar administrando o site incomodou uma parcela dos árabe-muçulmanos daqui. Diziam que eu era casada com um religioso, como se as idéias que expresso não pudessem sair da minha cabeça”. Não houve apenas reações dos devotos, até mesmo um pastor protestante chegou a afirmar que Maria era a testa-de-ferro da tentativa de islamização do Brasil. Contudo, as reações contrárias foram diminuindo e hoje até já existem mais sites na internet debatendo a religião islâmica. Para Maria, sempre há espaço para o questionamento, mesmo dentro de uma religião.

Sobre os acontecimentos dos últimos anos, quando o mundo árabe e muçulmano foi atacado violentamente, ela acha que os muçulmanos têm direito de se defender. “A luta contra um exército uniformizado que representa a força opressora é legítimo. Mas não há lógica em explodir uma bomba no meio de uma fila de crianças para pegar bala. Mesmo que fosse num jardim de infância norte-americano. Isso não é jihad. Não se pode matar uma pessoa só porque nasceu no mesmo país de um tirano”. Para Maria Moreira, os muçulmanos que praticam atos de violência que atingem civis estão fazendo o trabalho do inimigo. “O grupos exaltados usam o Corão para justificar a violência porque hoje não há mais liderança, cada um interpreta como quer. Se eu estou com raiva do meu vizinho, vou achar um versículo nos livro sagrado que justifique a violência”. Em tese, ela é a favor de um Estado islâmico se a maioria da população for muçulmana. Mas hoje Maria acha que há tanto atraso no mundo árabe, causado pelo colonialismo, guerras e governos ditatoriais, que a aplicação da xariá seria muito perigosa. Poderia ser usada para justificar uma ditadura de ignorantes das leis do Profeta, como aconteceu no Afeganistão com Talibã.

Fonte: ICARABE