Aoyagi (E) e Morita passaram a ter uma outra imagem dos árabes após temporada no Cairo
Alexandre Rocha
alexandre.rocha@anba.com.br
São Paulo e Cairo – Não é de hoje que a culinária japonesa faz sucesso no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, faz muito tempo que os restaurantes do gênero deixaram os limites do bairro da Liberdade, tradicional local de moradia de imigrantes japoneses e descendentes, para se espalhar por todos os cantos da cidade. Agora, porém, o know-how brasileiro na preparação de sushis e sashimis chegou ao mundo árabe.
Desde o início do ano funcionam no bairro de Zamalek, no Cairo, dois pontos-de-venda com a marca do Mori Sushi, criado em São Paulo há 15 anos pelo filho de japoneses Francisco Morita Filho. Um deles, na rua Gabalaya, é um restaurante japonês propriamente dito, o outro é um sushi bar instalado dentro do Sequoia, badalado restaurante na capital egípcia que mistura aromas e sabores de várias partes do mundo.
O Sequóia, aliás, é algo à parte. Localizado às margens do Nilo, com uma bela vista, o ambiente é amplo, arejado, com decoração moderna e tem um cardápio internacional que vai dos suhis às especialidades libanesas tão conhecidas no Brasil, como quibes e charutinhos. Lá é possível também se recostar nas confortáveis cadeiras rentes ao chão e fumar uma shisha, como é conhecido o narguilé no Egito, escolhendo entre fumos de diversos aromas, que vão da maçã, passando pela banana, pêssego, laranja, café, entre muitos outros.
Morita Filho, cujo pai era dono da antiga rede de Supermercados Morita, conheceu seu parceiro egípcio, o empresário Hossam Fahmy, no ano passado em São Paulo. Fahmy atua no ramo de calçados e estava no Brasil a negócios. “Ele comeu no restaurante, gostou e propôs a abertura no Cairo”, disse Morita à ANBA. “Na época eu estava tranqüilo com os negócios aqui e decidi ir atrás de uma nova experiência”, acrescentou.
A convite de Fahmy, o empresário brasileiro foi ao Cairo para conhecer a cidade e levar o negócio adiante. Além de ceder a marca, Morita também transferiu o know-how na preparação dos pratos japoneses. Seu sushiman, Aldo Aoyagi, passou três meses no Egito treinando colegas árabes na arte de fazer sushis à moda brasileira.
“Eles conheciam os sushis tradicionais, não os que temos aqui, inventados no Brasil”, disse Aoyagi, filho de pai japonês e mãe nissei. Durante sua estada no Cairo, ele introduziu ingredientes nas receitas como camarões empanados, cream cheese e frutas como morango e manga. A inventividade dos sushimen brasileiros pode ser comparada à dos chefs da cozinha contemporânea, que inclui a elaboração dos bolinhos de arroz acompanhados dos ingredientes mais simples, como atum e salmão crus, passando por frutas e vegetais tipicamente brasileiros, até foie gras.
A estadia e o salário de Aoyagi, que montou o cardápio básico do Mori no Cairo, foram pagos por Fahmy. “Dei prioridade para três sushimen, que já tinham alguma experiência, para que depois eles repassassem o que aprenderam para outros”, disse. “Fui muito bem recebido por lá, me trataram super bem, estive nas casas dos colegas e conheci suas famílias”, acrescentou.
Com a experiência, Aoyagi e Morita passaram a ter uma nova imagem do mundo árabe. Acostumados a ver no noticiário cenas de conflitos no Oriente Médio, eles encontraram no Egito um povo amável e hospitaleiro. “No plano pessoal, a experiência serviu para desmistificar a imagem que eu tinha da religião muçulmana”, disse Morita. “Ao chegar no Egito a gente encontra pessoas amigáveis. Você pode, por exemplo, andar na rua com uma máquina fotográfica sem ter medo de ser assaltado. As pessoas param para conversar, parecem até com os brasileiros”, acrescentou.
Segundo Morita, o acordo com o empresário egípcio não envolveu ganhos financeiros. “No longo prazo, a experiência, a ampliação do conhecimento, valem mais do que o ganho financeiro”, acrescentou. Assim como Aoyagi foi ao Egito, Fahmy enviou um funcionário seu, chamado Abdul Kareim, para passar uma temporada em São Paulo aprendendo com o dia a dia do Mori Sushi, que tem dois endereços na capital paulista, um em Perdizes, na zona oeste, e outro nos Jardins, na zona sul.
Imigrantes
Embora as culturas árabe e japonesa sejam bastante diferentes, suas presenças no Brasil têm traços semelhantes. Assim como reúne a maior coletividade árabe fora do mundo árabe, o país concentra também a maior colônia japonesa fora do Japão e, nos dois casos, São Paulo tem as maiores comunidades.
O início da imigração japonesa ao Brasil vai completar um século no próximo ano. Os primeiros japoneses chegaram ao Porto de Santos a bordo do Kasato Maru em 1908. Já os árabes começaram a desembarcar no Brasil no fim do século 19. No início, os integrantes das duas coletividades trabalharam em ramos diferentes, os japoneses principalmente na agricultura e os árabes no comércio. Hoje, porém, os descendentes destes imigrantes estão presentes em praticamente todos os segmentos da sociedade brasileira.
Outra semelhança é a presença cultural. Existem diversas entidades e agremiações de origem árabe e japonesa. Assim como é possível comer quibes, esfihas, homus e kaftas em qualquer ponto de São Paulo, se pode também saborear sushis, sashimis, tempurás e yakissobas em todo lugar, até em carrinhos de ambulantes nas ruas.
Se você quiser comprar um narguilé, ou shisha, basta ir à Rua 25 de Março, no centro da capital paulista, para encontrar um. Mas se você quiser preparar um bom sukyaki, tradicional ensopado japonês, é só ir ao bairro da Liberdade, também na região central da cidade, para se abastecer dos ingredientes.
Contatos
Mori Sushi
Tel: +55 (11) 3872-0976
Rua Melo Palheta, 284, Perdizes, São Paulo - SP
Mori Sushi Jardins
Tel: +55 (11) 3898-2977
Rua da Consolação, 3610, Jardins. São Paulo - SP
Mori Sushi Cairo
Tel: +202 135-0206
Rua Gabalaya, 19, Zamalek, Cairo
Sequoia
Tel: +202 735-0014
Rua Abu El-Feda, Zamalek, Cairo
Fonte: ANBA