Robert Doggart foi pego pelo FBI planejando um ataque terrorista contra muçulmanos de Nova Iorque, mas um juiz ainda não tem certeza se ele é uma “ameaça real”.
Nota do editor: Depois da publicação desse artigo Robert Doggart foi indiciado com uma acusação de solicitação para cometer uma violação de direitos civis. Pode pegar até dez anos de prisão, se condenado.
Um clérigo muçulmano idealiza uma trama terrorista para levar um grupo de nove homens a atacar cristãos nos Estados Unidos. O plano envolve queimar uma igreja e assassinar adoradores cristãos. E esses atacantes estarão bem armados com rifles de assalto, explosivos e até machados para cortar esses cristãos “em retalhos”.
Se esse clérigo muçulmano tivesse sido preso pouco antes do ataque, teria sido corretamente indiciado por terrorismo e preso sem direito a fiança, mas quando uma trama idêntica é idealizada por um ministro cristão que planeja assassinar muçulmanos em Nova Iorque, não só ele solto com fiança e não é indiciado por terrorismo, como pode até sair livre.
Esses são os fatos do caso de Robert Doggart, um ministro cristão. Gravações e conversas com um informante do FBI revelaram seu plano detalhado de viajar de sua casa no Tenessee para Nova Iorque e atacar pessoas de Islamberg, uma comunidade de aproximadamente 200 muçulmanos negros, próxima à fronteira da Pensilvânia. Ele via essa comunidade muçulmana, que jornais de direita há muito tempo demonizavam, como uma ameaça aos Estados Unidos.
Como destacado pela denúncia criminal, Doggart falou de sua disposição em sacrificar sua vida para provar seu “comprometimento com nosso Deus”. Ele também incentivou seus seguidores a serem “cruéis” com esses muçulmanos, a queimarem mesquitas, mata-los e até cortá-los em retalhos com um machado.
Em preparação ao seu ataque terrorista, Doggart também se encontrou com um informante do FBI disfarçado em Nashville. No encontro Doggart compartilhou detalhes de como planejava construir os explosivos que usaria no ataque e até exibiu algumas de suas armas, incluindo um rifle de assalto militar M-4.
Doggart não era um cara sentado em seu quarto ruminando sobre muçulmanos tomando seu país. Ele se engajou em planejamento, que incluiu detalhada lista de armas e contato com grupos de milícia, supostamente conseguindo o apoio de nove homens. Felizmente ele foi preso antes que pudesse efetuar o ataque.
Meus esforços para assegurar maior cobertura nacional da mídia para o caso de Doggart foram rejeitados por vários produtores, com comentários que variaram de “esta não é uma história de abrangência nacional” a “aposto que é mentalmente perturbado”. (Claro, um plano idêntico feito por um muçulmano teria resultado em manchetes em todo o país).
Na época Doggart estava detido sem direito a fiança, mas o surpreendente é que o juiz federal responsável pelo caso indicou recentemente que pode não aceitar a confissão de culpa porque não está certo de que as ações de Doggart constituem uma “ameaça real”, como exigido pelo estatuto federal.
O que é mais bizarro sobre o caso é que Doggart pessoalmente assinou um acordo de confissão de culpa, junto com seu advogado, admitindo que tinha se engajado na conduta alegada e estipulou expressamente que significava uma “ameaça real”.
Com que frequência um juiz rejeita um acordo feito pelo promotor e pelo réu? Seema Iyer, uma ex-promotora e atualmente advogada de defesa, explicou que só testemunhou essa situação duas ou três vezes em seus quase 20 anos de trabalho como advogada criminalista.
A maneira como esse caso foi tratado, da cobertura da mídia às ações do sistema criminal é mais uma vez evidência do padrão duplo quando se trata de conspirações terroristas feitas por muçulmanos em comparação com as feitas por não-muçulmanos. Não tenho certeza de quantos ataques terroristas do tipo do que aconteceu em Charleston precisam acontecer, antes que coletivamente, como nação, vejamos as ameaças dos terroristas de extrema direita com a mesma seriedade daquelas do ISIS e da Al-Qaeda, especialmente se considerarmos que a direita matou o dobro do número de americanos em solo americano, em comparação com terroristas muçulmanos, desde o 11 de setembro.
Infelizmente, parece que mais pessoas inocentes podem ser mortas, antes que esse dia chegue.
Fonte: Versão editada do artigo The Christian Terrorist Who Vowed to Kill Muslims and May Go Free
Esta notícia também foi veiculada no jornal inglês The Guardian, entre outros veículos de comunicação: Release of man who threatened Islamberg hamlet prompts outcry