20.4.04

Parlamentares brasileiros vão à Palestina dar sua contribuição ao processo de paz

[15/04 - 07:00]
Deputados da Liga Parlamentar Brasil-Árabe chegam neste sábado a Rammallah para reunião com Yasser Arafat e Hamad Qureï, respectivamente presidente e primeiro-ministro da Autoridade Palestina. Eles querem chamar a atenção dos líderes mundiais para a necessidade de uma solução negociada para os conflitos na região.

Paula Quental

São Paulo - Um grupo de cinco parlamentares brasileiros chega neste sábado (17) em Rammallah, Palestina, para encontrar-se com Yasser Arafat e Hamad Qureï, presidente e primeiro-ministro da Autoridade Palestina. Um dos objetivos da visita, de acordo com o deputado Jamil Murad (PC do B-SP), idealizador da comitiva, é influir na Corte Internacional de Haia "no sentido de condenar e solicitar a destruição do muro" construído por Israel para isolar os territórios ocupados.

Os deputados federais brasileiros, que serão acompanhados pelo embaixador da Autoridade Palestina no Brasil, Musa Amer Odeh, e pelo presidente da Confederação Palestina da América Latina e Caribe, Farid Suwwan, pretendem visitar o muro e verificar a situação do povo palestino que vive no local.

Segundo Murad, que tem o cargo de secretário-geral da Liga Parlamentar Brasil-Árabe, a ação do Legislativo brasileiro é uma forma de chamar a atenção das autoridades mundiais para a necessidade de uma solução negociada para os conflitos na região. "Defendemos que a ONU (Organização das Nações Unidas) jogue o seu papel, intervindo, independentemente da posição dos Estados Unidos, para dar condições de respeito e auto-defesa ao povo palestino", declarou à ANBA.

Outros países, como Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, França e Grã-Bretanha, já enviaram comitivas parlamentares à Cisjordânia com a disposição de ajudar no processo de paz. O Brasil, porém, reúne condições especiais para ser um dos líderes nessa negociação, condições essas que têm origem nas próprias raízes do povo brasileiro, acredita Murad: "Somos formados por índios, portugueses, árabes, judeus, europeus, latino-americanos; temos liberdade de religião e a discriminação por raça é punida por lei. Há entre nós a cultura do respeito às diferenças".

Ele lembra que o país tem tradição diplomática de defesa da paz. "Foi assim, por exemplo, durante a Segunda Guerra, quando o Brasil participou lutando pela paz". Além disso, o país dirigiu a histórica assembléia da ONU de 1947 que decidiu por dividir as terras palestinas em duas partes, criando o Estado de Israel, o que, na opinião do deputado, aumenta a sua responsabilidade no processo. "Temos a obrigação de apoiar a consolidação da Palestina, pois apenas o Estado de Israel foi criado".

Momento crítico

De acordo com Jamil Murad, a visita dos brasileiros à Palestina se dá num momento especialmente crítico na relação entre os dois povos, quando o governo israelense declara a intenção de matar os líderes palestinos, incluindo o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat.

"Esta afirmação, feita por autoridades israelenses, mostra que estamos diante de uma situação delicadíssima, um verdadeiro barril de pólvora", disse o deputado.

A temperatura ficou ainda mais alta e o acordo de paz ainda mais distante com o apoio dado ontem (14) pelo presidente norte-americano, George W. Bush, ao plano do premier israelense, Ariel Sharon, de garantir que Israel possa manter algumas colônias de judeus na Cisjordânia e não precise receber refugiados palestinos. O acordo anterior era de que os israelenses deixassem todo o território da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, além de abrigar os que fugiram da região após a formação de Israel.

Segundo disse à ANBA o embaixador da Autoridade Palestina no Brasil, Musa Amer Odeh, o apoio de Bush aos planos de Sharon "torna ainda mais importante a viagem da delegação de parlamentares brasileiros nesse momento".

Escritório comercial

Outra ação pró-Causa Palestina dos parlamentares brasileiros foi a coleta de mais de 300 assinaturas de senadores e deputados de todos os partidos para um abaixo-assinado entregue ao ministro das Relações Exteriores embaixador Celso Amorim. O documento pede o posicionamento firme do governo brasileiro contra a construção do muro israelense em terras palestinas.

A visita à Palestina, na opinião de Jamil Murad, terá ainda a função de ajudar na concretização do projeto já anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de abrir um escritório comercial do Brasil na cidade de Rammallah. "Não conheço os últimos passos do projeto, mas com certeza nossa ida para lá vai dar uma contribuição para a sua concretização".

Os parlamentares brasileiros vão também se reunir com o presidente do Conselho Legislativo da Palestina Rouhi Fatouh e visitarão outras cidades atingidas pelos conflitos, como Hebron, Jericó, Nabloz e Belém. Um esquema especial de segurança será montado pelas autoridades palestinas para acompanhar os deputados.

Além de Murad, fazem parte do grupo parlamentar brasileiro Nilson Mourão (PT-AC), Geraldo Tadeu (PTB-SE), Leonardo Mattos (PV- MG) e Vanessa Graziotin (PPS-MG). O grupo deixará o Rio de Janeiro na sexta-feira (16) às 10h20 da manhã com destino a Amã, capital da Jordânia, e de lá segue para Ramallah. A volta é prevista para 24 de abril.

Fonte: ANBA