Internet não é usada apenas pelo terrorismo
Catharina Epprecht
O uso da internet no terror islâmico é um assunto cada vez mais difundido. Vídeos de prisioneiros sendo degolados e até páginas de grupos terroristas são encontrados na rede. Mas a ferramenta também é usada para fortalecer os laços entre muçulmanos e promover conhecimento, divulgando o islã como religião pacífica e respeitadora da mulher.
Desde fevereiro de 1999, funciona o Islamic Chat (www.geocities.com/islamicchat em breve com domínio próprio em http://islamicchat.org), que apesar do nome é uma página em português, criada por uma brasileira.
- Dei palestras na Sociedade Muçulmana Brasileira e um curso de extensão na Uerj sobre o islã. Achei que a internet era o veículo ideal para continuar a passar essas informações, alcançando um número maior de pessoas - explica, ao JB, Maria Moreira, que se formou em engenharia, mora no Egito e, até criar o site, não tinha prática com webdesign.
Maria se converteu em 1990. Seu site traz diversos artigos sobre a religião, em assuntos introdutórios, como um breve histórico dos muçulmanos, ou mais profundos, como a história das escolas de jurisprudência islâmica. Também há temas que vão desde a maneira correta de se portar à mesa - entre outras indicações, os muçulmanos devem comer usando a mão direita e, no caso de fazê-lo sem talheres, devem usar apenas três dedos - até uma explicação de por que ''Guerra Santa'' é uma péssima tradução para a palavra ''Jihad''.
- A internet é ótima para aproximar pessoas, independentemente da crença - diz.
Além dos artigos, o site traz um fórum de discussões e um classificado matrimonial no qual se procuram pessoas ''com Alá no coração'' ou que sigam ''os mandamentos de Alá'' para dividir sua vida.
Nos fóruns há receitas, discussões sobre questões polêmicas como homossexualidade e casamento interreligioso e espaço para tirar dúvidas. Algumas chegam a ser bem peculiares para quem não conhece a religião, como, por exemplo, se tatuagem é haram (pecado) ou se homens podem usar gravatas de seda (de acordo com o Corão, a seda é tecido proibido aos homens).
A página defende que violência e excessos contra a mulher não são dignos do islã. E apesar de o site se definir como espaço feminino na internet, a participação masculina é intensa. Ao negar o tabu de que o sexo feminino no islã não tem direitos, Maria argumenta:
- O site procura focar no papel da mulher no islã mas não exclui os homens da discussão. Não existe possibilidade de homens e mulheres conviverem e se entenderem, se não for através do conhecimento mútuo. Não adianta nada as mulheres ficarem trocando informações apenas entre elas, se os homens não participarem dessa troca.
Fonte: Jornal do Brasil