Missão da Agência Brasileira de Cooperação esteve no país árabe este mês. Um dos participantes foi o diretor da Embrapa, Gustavo Chianca. Segundo ele, os marroquinos querem conhecer as experiências brasileiras com cana-de-açúcar, avicultura, 'plantio direto' e biotecnologia. Já os brasileiros querem saber mais sobre as laranjas, as oliveiras, a ovinocultura e a caprinocultura do Marrocos.
Alexandre Rocha
São Paulo - O Marrocos está interessado em fechar acordos de cooperação na área agrícola com o Brasil. Entre os dias 12 e 16 deste mês, o diretor-executivo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Gustavo Chianca, esteve no país árabe para tratar do assunto, como parte de uma missão organizada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores.
"O Brasil e a Embrapa têm muito interesse nessa região, por causa do clima, e na África em geral. O presidente Lula quer que a empresa seja uma passadora de tecnologia para o continente africano", disse Chianca, acrescentando que a Embrapa domina as técnicas agrícolas apropriadas para locais de clima tropical e semi-árido e pode fornecer uma "cooperação importante". "O Marrocos nunca teve um convênio específico com o Brasil nessa área", afirmou.
Do outro lado, Chianca disse que o Marrocos possui bons centros de pesquisa agrícola, boas escolas de agronomia, tem uma agricultura desenvolvida e, por isso, pode também dar uma contribuição valiosa o Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado grande atenção às relações do Brasil com a África e com os países árabes. Prova disso é que ontem (29) ele encerrou sua terceira viagem ao continente. Desta vez ele esteve em São Tomé e Príncipe, para participar da 5ª reunião de cúpula da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), no Gabão e em Cabo Verde. Durante a viagem foram assinados acordos de cooperação em vários setores. Em dezembro do ano passado, Lula esteve no Egito e na Líbia e, em novembro, em cinco países da África sub-saariana.
Chianca esteve no Ministério da Agricultura do Marrocos, no Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária (Inra), na Escola de Agronomia e Veterinária Rei Hassan II e na Escola de Agronomia de Meknes.
De acordo com ele, os marroquinos têm interesse na troca de experiências nas áreas de cana-de-açúcar, principalmente no que diz respeito aos "biocarburantes" (álcool); avicultura; "plantio direto", que é uma técnica utilizada em regiões tropicais e semi-áridas em que não há o uso de tratores para arar, é utilizada uma cobertura vegetal (palha) na terra, que a protege da erosão, conserva a umidade e ajuda a adubar o solo; e biotecnologia, principalmente o melhoramento genético de alguns produtos, como milho e feijão, que os tornam mais resistentes à seca.
Chianca destacou que o Brasil ocupa uma posição de liderança nas pesquisas nessas áreas. No caso dos frangos, por exemplo, os marroquinos querem conhecer o sistema de produção brasileiro, baseado em grandes empresas, como a Sadia e a Perdigão, e que utiliza vários pequenos produtores integrados.
Laranjas, azeitonas, ovelhas e cabras
Na outra ponta, interessa à Embrapa ter acesso às variedades de laranjas cultivadas no Marrocos. "O Marrocos tem a maior variedade de laranjas de mesa, para consumo in natura, e é o maior fornecedor da Europa. Já o Brasil é produtor de laranjas para suco e tem interesse em começar a produzir frutas para mesa, principalmente na região sul", disse o diretor da Embrapa.
Segundo ele, há possibilidade também de um convênio na área de oliveiras. "O Marrocos tem o maior banco de espécies de olivas e estudamos a possibilidade de adaptação de algumas variedades para plantio no Brasil, mais especificamente no Vale do Rio São Francisco, que fica no semi-árido, mas é irrigado", afirmou, acrescentando que existem possibilidades de troca de experiências também nas áreas de ovinocultura e caprinocultura.
Chianca afirmou que, já em setembro, pesquisadores da Embrapa que trabalham no laboratório da empresa em Motpellier, na França, que atuam nas áreas de "plantio direto" e biotecnologia, devem visitar técnicos do Marrocos. Em outubro, uma missão marroquina virá ao Brasil para conhecer a Embrapa Semi-Árido, em Petrolina (PE), e a Embrapa Cerrados, em Brasília. "Até o final do ano deveremos ter um projeto de cooperação técnica alinhavado", concluiu ele.
Além do setor agropecuário, foram tratadas na missão organizada pela ABC possibilidades de cooperação nas áreas de construção civil e águas. O idealizador da viagem foi o diretor-geral da ABC, Lauro Barbosa, que já foi embaixador do Brasil em Rabat, capital do Marrocos.
Balança
As relações comerciais e diplomáticas entre o Brasil e o Marrocos vêm aumentando. Em abril, o ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação do país africano, Mohamed Benaïssa, esteve no Brasil e se encontrou com o presidente Lula e outras autoridades brasileiras. Na ocasião começou a se falar na possibilidade de um acordo de livre comércio entre o Marrocos e o Mercosul.
No início de julho, durante a reunião de cúpula do bloco sul-americano, em Porto Iguaçu na Argentina, o Brasil e os demais membros do grupo (Argentina, Uruguai e Paraguai) aprovaram, por unanimidade, o início das negociações com o governo marroquino.
No primeiro semestre deste ano, o Marrocos ficou em quarto lugar entre os países árabes importadores de produtos do agronegócio brasileiro, com compras de US$ 152,5 milhões, atrás apenas da Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos.
No geral, o Marrocos importou o equivalente a US$ 187,8 milhões do Brasil nos primeiros seis meses de 2004, ou 95,5% a mais do que no mesmo período do ano passado. Os principais produtos da pauta foram trigo, açúcar, óleo de soja, soja em grãos e automóveis.
Do outro lado, o Brasil importou o equivalente a US$ 88,5 milhões do país árabe no primeiro semestre, ou 17,15% a mais do que no mesmo período de 2003. O agronegócio também teve responsabilidade por esse desempenho, uma vez que os principais produtos comprados pelo Brasil foram fertilizantes e matérias primas para a fabricação de fertilizantes. O Marrocos é um grande produtor mundial desses insumos.
Fonte: ANBA