Já foram inauguradas duas lojas, em Dubai e no Bahrein, e outras estão a caminho. O fato é inédito, pois nem mesmo no Brasil a companhia trabalha com franquias da marca, de moda jovem e unissex.
Produtos dzarm. na loja de Dubai: Moda jovem unissex, 'ousada' e 'fashion', porém, adaptada
Alexandre Rocha
São Paulo – Dentro da estratégia de expandir suas fronteiras comerciais para muito além do Brasil, a Companhia Hering, tradicional confecção de Blumenau, Santa Catarina, começou a abrir franquias de sua marcas nos países árabes. No início de dezembro foram inauguradas duas lojas da dzarm., grife de moda jovem unissex, uma no Al Ghurair Shopping Center em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e a outra no Bahrein Mall em Manama, capital do Bahrein. As unidades têm cerca de 170 metros quadrados.
Até o final de fevereiro mais uma loja da marca será inaugurada na região, desta vez no Catar. No segundo semestre deverão começar a funcionar duas unidades da grife infantil PUC, uma na Arábia Saudita e outra no Líbano.
De acordo com Leandro Vieira, gerente de exportações da Hering, as negociações para a concessão de franquias começaram em setembro do ano passado. Um agente comercial jordaniano fez a ponte entre a companhia catarinense e a Ninety Nine International, que se tornou a franqueada da dzarm. nos Emirados e no Bahrein. O investimento inicial feito pela operadora árabe, segundo Vieira, foi de US$ 900 mil.
Planos
Além disso, a Ninety Nine hoje detém a “reserva de mercado” da marca para o Catar, Jordânia, Egito e Irã. Este último não é um país árabe, mas está localizado no Golfo.
O fato curioso é que a Hering resolveu inovar de vez nos negócios com os árabes ao franquear a grife, uma vez que não trabalha com franquias da dzarm. nem mesmo no Brasil, onde as roupas da grife são comercializadas em lojas multimarcas. A idéia é abrir pelo menos uma loja da marca em cada um desses países.
“Quando o nosso agente da Jordânia esteve em Blumenau, discutindo o assunto, isso parecia impossível”, disse Vieira. No caso da PUC serão escolhidos representantes locais na Arábia Saudita e no Líbano.
As franquias concedidas pela Hering nos países árabes diferem um pouco do modelo tradicional desse tipo de negócio. Segundo Vieira, a empresa não cobra royalties pelo uso da marca, apenas uma taxa de franquia. Os produtos comercializados, porém, são 100% brasileiros, fabricados pela matriz.
Adaptações
“Resolvemos flexibilizar nosso processo de franquias internacionais”, afirmou o executivo. Segundo ele, o pacote para os árabes é mais leve também no que diz respeito aos serviços prestados pela franqueadora. “Pesa menos a prestação de serviços, pois os objetivos maiores são as vendas e a apresentação da marca”, acrescentou.
Na avaliação de Vieira, sairia muito caro para a Hering arcar com os serviços necessários para a promoção da marca do outro lado do mundo. Então todo o desenvolvimento da comunicação visual da marca, por exemplo, é feito pelo operador local e aplicado após aprovação do departamento comercial da matriz.
Segundo o executivo, além dos custos menores, tal sistema permite que o representante trabalhe o marketing da grife “de acordo com a linguagem local”.
Adaptar os produtos ao gosto do freguês faz parte também da estratégia internacional da Hering. Para a dzarm., por exemplo, que representa um segmento de roupas mais “ousadas” e “fashion” dentro da companhia, foi aumentado o comprimento da saias a serem comercializadas no mundo árabe, a fim de se atender a exigências religiosas. “É preciso estudar como cada país funciona e como adaptar os produtos para cada um deles”, afirmou Vieira. Daí a escolha de representantes diferentes para o Líbano e a Arábia Saudita.
No caso da Arábia Saudita, por exemplo, optou-se pela linha infantil ao invés das já tradicionais lojas Hering existentes no Brasil e em outros países da América Latina. “Na Arábia Saudita onde compra homem, mulher não compra, e vice-versa, o que dificulta a abertura de uma Hering Store que vende de tudo. Por isso a opção pela PUC”, afirmou Vieira.
Outros mercados
Mas a estratégia de franchising da empresa catarinense não termina no Oriente Médio, envolve também a Europa. Para março está programada a inauguração de uma loja dzarm. na cidade espanhola de Marbella, que é um rico balneário na costa do Mediterrâneo.
Vieira conta que a Hering decidiu em 2002 começar a apostar com maior força em novos mercados, fora das Américas. Essa decisão, segundo ele, foi motivada pelos problemas econômicos ocorridos na Argentina e na Venezuela, que revelaram a “vulnerabilidade” do mercado latino-americano. A partir daí a companhia começou a enviar representantes para missões e feiras nos países árabes. “Resolvemos trabalhar o processo de consolidação das marcas no exterior”, declarou.
Antes da abertura das franquias, a participação das vendas para os árabes na receita de exportações da Hering era pequena, e ainda é, mas a aposta é no crescimento. De acordo com Vieira, em 2003 a companhia exportou o equivalente a US$ 300 mil para a região, sendo que o faturamento das vendas externas foi de US$ 22 milhões, 22% de seu faturamento global.
É que a Hering tinha apenas um “operador” na Arábia Saudita. Para este ano, a previsão é de que os embarques para os árabes somem US$ 1 milhão. Mas Vieira para por aí suas estimativas. “É preciso ter o pé no chão, ver qual será a aceitação das marcas. O primeiro semestre deste ano será um termômetro importante”, afirmou.
Hoje o principal mercado da empresa no exterior são os Estados Unidos, que respondem por 60% das receitas de exportação. Só que para lá os embarques são formados basicamente por roupas confeccionadas para marcas norte-americanas. O maior mercado da grife Hering, porém, é o Uruguai.
Fonte: ANBA